tag:blogger.com,1999:blog-21490134871147279942024-03-20T00:29:21.896-03:00Caos à Parte"O caos é uma ordem por decifrar." -José SaramagoIgor Damascenohttp://www.blogger.com/profile/11163447904774985016noreply@blogger.comBlogger73125tag:blogger.com,1999:blog-2149013487114727994.post-3616772859295068832015-05-31T21:12:00.000-03:002015-06-01T16:55:09.769-03:00Apartar<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Naquele dia abri a porta, saí de
casa e dei de cara comigo mesmo. Comigo embalado. Pacote pardo todo meio assim,
fechado, lacrado, devidamente selado, identificado, carimbado, assinado,
protocolado e escrito bem grande de um lado FRÁGIL e no outro DEVOLVER AO
REMETENTE. O susto foi grande. Bom mineiro, guarneci-me em desconfianças e
analisei o pacote minuciosamente. Cheirei, e era meu cheiro. Ouvi, e eram meus ruídos.
Sacudi, e era meu sacolejo. Abri, e me era eu. Assustadamente me vi dentro
daquele pacote. Aparentemente, lá estava eu, íntegro, com os mesmos defeitos e
marcas de fábrica que há tantos anos me caracterizavam até mesmo a olho nu.
Aparentemente devolvido em mesmo estado. Mas algo me dizia o contrário. Algo além
dos meus sentidos, além do cheirar, ouvir, sacolejar e contemplar, me dizia o
contrário. Faltavam partes que não sabia o nome. Partes que não sabia se
poderiam ser substantivadas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Boa
parte de mim não voltou. Embora o esforço louvável de me embalar assim, com
tanto cuidado e me devolver assim, na porta de casa, faltava algo em mim. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">___<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Achei
melhor entrar comigo. Não era recomendável me deixar ali abandonado na porta de
casa sujeito à chuva, ao frio, ao calor, à vida, ao mundo. Meu coração cristão enrustido
não me deixaria fazer isso – amar ao próximo como a ti mesmo. Com toda minha
pouca força que me é peculiar, me arrastei por alguns minutos até entrar comigo.
Fracos ou não, nos carregar nessa situação é pesado demais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Me
deixei ali mesmo na sala de estar. Tentei procrastinar o problema, apesar de
não me caber debaixo do tapete. Tranquei a porta de casa e saí. Tentei levar o
dia normal, fingir que nada havia acontecido. Mas aquilo não tinha nada de
normal. Como assim me receber de volta? Achei melhor voltar e me encarar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Me
olhei e eu ainda estava ali do jeito que havia me deixado. Ainda me faltavam as
partes que não sabia o nome. Era difícil me ver assim nesse estado de semissobrevivência
e semi-integridade. Estavam ali meus cabelos, olhos, boca, tronco, membros.
Estavam ali, mas eu não me estava por inteiro. Me encarei por um bom tempo e
cada vez mais me perdia em indagações
comigo mesmo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
desespero era evidente, questão de tempo. E me tomei em desespero. Fiquei com
medo de não resistir tão exposto ao mundo e suas condições e temperaturas
normais. Resolvi me guardar no freezer. Era necessário gelo. Era necessário me
caber naquele freezer. Lá ganharia tempo. Lá estaria conservado e seguro até
resolver o que fazer comigo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Não
me caberia no gelo sem me destroçar. Peguei o cutelo e sem dó de mim enfiei bem
forte logo no peito. Me abri, me destrocei por inteiro, separei lado de cá e
lado de lá. Procurei desesperadamente por aquilo que me faltava e não conhecia
o nome. Me destrocei cada vez mais. Descobria partes em mim que não conhecia e
as estraçalhava em seguida. Não eram o que eu procurava. Todas partes insignificantes.
Apenas apêndices. Não me serviriam, estavam ali apenas para ser estraçalhadas.
O que procurava, o que me faltava e não tinha nome, não encontrei. Não
encontrei. Não sabia o que encontrar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quando
me caí em mim, apenas me vi ali em meio a tantos pedaços que eu mesmo
fragmentei. Destroço particular. Parte ocular: me olhei mais uma vez e chorei.
E como chorei. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Chorando
percebi que não eram as lágrimas que me faltavam. E também por isso chorei.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">____
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Inconfidência
de mim</b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">____<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ainda
não sei o que me falta, mas cansei de me guardar em gelo. Entre a salvação e o
castigo, distribuí partes de mim por aí. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Vez
ou outra dizem que viram não sei que parte de mim não sei com quem não sei em
que lugar. Acredito que muitas vezes nem acredito. Entre a lenda e a história,
que me sirva de exemplo para mim. Não me quereria mártir, falsamente imaculado,
embalsamado, congelado - falso todo do que já não pode ser mais inteiro. Fiz a
minha parte com esta parte que aqui estou: escrevi.<o:p></o:p></span></div>
Igor Damascenohttp://www.blogger.com/profile/11163447904774985016noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2149013487114727994.post-2041987569203345192015-04-04T15:00:00.000-03:002015-04-04T15:00:24.380-03:00Mais ao léu<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Já não incomodava tanto
ouvir a pergunta que mais ouvia durante esses últimos tempos. “Está tudo bem?”.
“De certa forma, sim” respondia João Carlos. De certa forma significava Abreu.
Abreu do edifício ao lado, do Residencial Mutarelli, morador do 402, o quase
vizinho de janela de J. Carlos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Para João C. era mais fácil
passar os dias respondendo sobre sua saúde e se esconder. Sozinho, como sempre,
em seu apartamento, passou muito tempo escondido, dividindo espaço com os
frascos de xampu e condicionador entre um basculante do banheiro observando a
vida de Abreu acontecer. Dali o Abreu não o enxergaria nunca, ele se garantia
há tempos. Observava tudo. Acompanhou religiosamente o término do casamento do
quase vizinho. Às 19h15 de segunda a sexta começavam os bate-bocas que se
esquentaram cada vez mais até a explosão final. Era domingo de Páscoa e se fez
muito barulho. Louças, plásticos, madeiras, vidros, porcelanas, sentimentos.
Tudo sendo jogado pelos ares em uma dança frenética e João Carlos fechando os
olhos em elevadíssimo estado de graça tentando descobrir apenas pelo barulho o
que Abreu estava recebendo em sua direção. Separaram-se. Abreu passou a ser
sozinho, assim como J. Carlos do basculante indiscreto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Carlos observou diariamente
a solidão de Abreu se solidificar. Se achava superior nesse mundo. Era tão
sozinho há tanto tempo que se achava mais forte e preparado que Abreu para
habitar o vazio. Essa era “a parte ruim de ter companhia!”, se dizia João C. a
todo instante enquanto demonstrava às paredes seu irônico sorriso amarelo
amargo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Fumante assumido e
praticante se descobriu com câncer bucal, assim, do nada, como ele diria ou
assim, inevitavelmente, como diriam os médicos. Lhe doía a boca, lhe doíam as
palavras que pouco pronunciava, lhe doía Abreu apenas sozinho e sem a ingrata
companhia do câncer.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Não se doeu assim por tanto
tempo. Em uma de suas várias idas ao Hospital do Câncer, encontrou Abreu
cabisbaixo em uma sala de espera. J. Carlos não sabia como agir. Pouco havia
visto Abreu assim, na sua frente. Apesar de abatido, Abreu fez a
boa-vizinhança. Se abriu para João Carlos como o câncer abria os dois por
dentro. Contou detalhes da doença, dos sintomas, das dificuldades, do divórcio
com a ex-mulher. Disse até que provavelmente não teria tempo de vida restante
para ver o Vasco campeão outra vez. Carlos começou a sentir um tesão
incontrolável por dentro. Uma sensação de leveza tomava seu corpo. O tumor de
sua mediocridade de espírito lhe parecia benigno. Sorriu. Sorriu amarelo amargo.
Gargalhou de tossir um fio de sangue. Abreu se assustou. Como poderia alguém
rir tanto de tamanha desgraça com outra pessoa? João C. se deu conta de que não
estava apenas entre as paredes mofadas de seu apartamento. Pediu desculpas ao
quase vizinho. Disse que câncer na boca é assim mesmo. Às vezes dá isso. Sabe
como é, né? A boca fica foda. Não dá pra segurar. É câncer. Não tão grave igual
o seu, no cérebro, mas é foda, Abreu. Não dá pra segurar. Não é tão grave igual
o seu. Não é tão grave igual o seu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Já não incomodava ouvir a pergunta que mais
ouvia durante esses últimos tempos. Observava ainda mais freneticamente a vida
do quase-vizinho. Quando não encontrava Abreu no Hospital, observava-o do seu
velho basculante. Abreu ficou careca em uma velocidade absurda. Perdeu muito
dos poucos quilos que tinha. Definhava-se em casa cada dia mais. Do outro lado,
J. Carlos ria sem nenhum pudor tudo o que segurava no Hospital. Misturava
sangue com cigarro, sadismo com dor. E gol do Flamengo. Vasco mais uma vez
vice-campeão do Campeonato Carioca.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Já se alegrava de ouvir a
pergunta que mais ouvia durante esses últimos tempos. Dizia que estava bem, que
poderia ter sido pior. Que câncer no cérebro é muito pior. “O Abreu que morava
ao prédio ao lado está com câncer no cérebro sabia?”, não se cansava de dizer
às velhinhas da igreja que o abordavam na rua com olhar de piedade. “Sim, ele
está sim. Não está nada bem. Direcionem suas orações para aquela pobre
alma...”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Nem com todas as orações de
todas as velhinhas do mundo Abreu se salvaria. E não se salvou. João Carlos
acompanhou seus últimos dias no hospital apostando em sua mente em qual dia
Abreu iria desencarnar. Errou por dois dias. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> E por um dia inteiro ficou
velando o corpo de Abreu. Dizia que a família do morto não se preocupasse, de
que para ele não seria problema nenhum passar a madrugada ali velando o corpo.
Às vezes simulava uma ida ao banheiro, às vezes simulava ir tomar um café, às
vezes simulava um ataque de choro. Precisava sair por certos momentos para dar
conta de sua crise de riso. Abafava o som de sua gargalhada com um lenço imundo
de sangue e catarro.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Durante o enterro, só
conseguia pensar em uma vaga de um mausoléu vazio quase ao lado dos restos
mortais de Abreu. Simulou mais um crise de choro e foi ao coveiro perguntar
como fazia para reservar a vaga, se resolvia essas coisas ali com ele mesmo.
Voltou no outro dia, já com os papeis assinados, serviços funerários pagos, uma
gorjeta sincera ao coveiro. E voltou em definitivo, mais um dia depois. Caixão
bonito, de madeira boa, pra combinar com o mausoléu. Os poucos que foram no
velório, no enterro, simulavam ataques de choro para se encontrar e se
perguntar: “será que câncer na boca dá isso mesmo de o morto parecer que morreu
sorrindo?”.<o:p></o:p></span></div>
Igor Damascenohttp://www.blogger.com/profile/11163447904774985016noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2149013487114727994.post-41598971632713725582014-08-08T22:59:00.000-03:002014-08-08T22:59:23.059-03:0037370<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Carlos, que roupa é essa
Carlos? Que roupa perfeita é essa?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-Não é roupa, senhor. É uma
proteção contra o vírus Ebola...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Aposto que é coisa do
Fagundes. Desgraçado. Isso é coisa do PDM. Sempre saindo na frente. Já pensou
eu com uma roupa dessas, Carlos? Pra que merda mesmo eu pago vocês, ein? Tirei
o incompetente do Ronaldo do PDM pra isso? Você mesmo me incentivou a tirar ele
de lá, Carlos. Disse que em 2010 o PDM só ganhou por causa de marketing. Mandou
eu investir e tirar o Ronaldo de lá e trazer pra cá. Aí eu vou, tiro esse viado
de lá e o que ele faz? Porra nenhuma! Enquanto isso o Fagundes tá com essa
roupa podendo abraçar todo mundo e ganhando um monte de votos. É disso que eu
preciso, Carlos! Poder dar uns apertos de mão sem me preocupar, dar uns
abraços, beijar umas criancinhas... Preciso de popularidade, caralho! Subir nas
pesquisas, intenções de voto. Falta pouco tempo pra eleição, merda!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-Não, senhor... esse não é o
Fagundes e...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Que merda, cara! Esse
Ronaldo só pode tá me traindo. Como deixa uma ideia dessas pra concorrência? Um
monte de empresário já me pressionando, dizendo que não vão bancar mais uma
derrota... Minha mulher toda preocupada, meus filhos chorando... Tá todo mundo
pirando, cara. Minha mãe tá rezando, fazendo novena na Matriz pra ver se eu
ganho dessa vez...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-Senhor, por favor, me
escute. Não é nada disso que você está pensando. Essa não é uma roupa comum, é
uma proteção que os americanos estão utilizando para o tratamento do vírus
Ebola...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">É isso mesmo, Carlos! É isso
mesmo! Tá aí na minha agenda, pode ver. Você pelo menos anda com a minha
agenda, seu incompetente? Deve tá no site. O Ronaldo coloca tudo no site. Acho
que é isso mesmo, Carlos. Morro do Ebola, semana que vem. Imagina eu com uma roupa
dessas, com uns adesivos colados... Meu número: 37370 bem grande colado no
peito Embaixo a frase: “Honestidade e Prosperidade”... Até que ia ficar legal,
né Carlos? Grande frase, gostei bastante. Pelo menos pra isso o Ronaldo serviu.
“Honestidade e Prosperidade”...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-Senhor, os americanos...<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Isso Carlos! Bem lembrado! O
Ronaldo fala inglês, né? Põe ele em contato com esses americanos agora. Quero
essa roupa pra semana que vem! Morro do Ebola, aí vou eu!<o:p></o:p></span></div>
Igor Damascenohttp://www.blogger.com/profile/11163447904774985016noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2149013487114727994.post-12309376549937671742014-06-27T12:24:00.000-03:002014-06-27T12:24:16.738-03:00Paulatinamente<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Não era “me fazer o bem” que ele queria. Não era mesmo. Paulo
sempre foi assim e só estava ali para torturar cachorro morto; me fazer sentir
menor do que as bactérias que me comiam por dentro. Santa Majestade Paulo, sempre
ele, Paulo, Paulista de São Paulo, sempre mais inteligente, mais equilibrado,
mais forte e mais perto de Deus, ainda que quem flertasse com a morte fosse eu.
Mas ele estava lá, mal consegui abrir os olhos e ele já estava lá. Antes que eu
reconhecesse a fria parede branco-hospital e a cama de metal com o lençol verde
que me reclinaria conforme eu quisesse mas não me daria asas para escapar de
Paulo. Antes de uma enfermeira com pressa, antes de uma refeição sem gosto (ou
com gosto de minha relação com Paulo), antes de me dar conta dos tubos que
enchiam de soro pelas veias, me enchi pelas veias da alma de ódio do sorriso de
Paulo. Aquele sorriso cheio de dentes brancos que parecia ser mais uma peça de
roupa dos trajes obrigatórios da falsa clareza de tudo daquele hospital.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A minha boca, ainda com gosto de sangue, não consegui abrir.
Cuspo aqui, agora, o que não consegui naquele dia. Cuspo o sangue já não tão
fresco: coalhado de um rancor que bisturi nenhum tiraria. Fui só ouvidos, ódio
e ouvidos. Prorroguei involuntariamente uma relação que há muito me acabava e
que há pouco eu resolvi acabar. A cada gota de soro que me reidratava, Paulo me
tirava duas. Senti certa alegria estranha por conseguir acordar e não estar em
coma, apesar que ainda me faltavam certezas sobre meu verdadeiro estado e por
quanto tempo estive “dormindo”. O alívio de ser um ser acordado, não mais uma
planta estática apenas a ouvir a voz de Paulo. Passei muito tempo assim em
estado normal de temperatura e pressão e não queria agregar assim, de bandeja e
de cama, mais uma felicidade ao Perfeito Mundo de Paulo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A sua voz irritava meu corpo por inteiro, mas meus ouvidos
faziam a desonra de suportá-la. Seu sotaque paulistano, dizendo que não mais me
abandonaria fazia de meus ouvidos paladar; senti o gosto de suas palavras
vomitadas. Ouvi, inerte naquela cama, seu dizeres de “Eu te perdoo e nunca mais
vou te abandonar”. Minha boca, condenada ao sangue, embora não fosse capaz de
falar, serviu ao menos para despertar o nojo que Paulo sentia e de mim e assim
me fazer escapar de mais um beijo daquele verme que por tanto tempo me comeu.
Ganhei um demorado beijo no rosto com falso afeto e um demorado beijo na testa
com um falso “se cuida”.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">“Me cuidar” era a última coisa que Paulo gostaria que eu
fizesse. Meu jeito desajeitado e desesperado ao dar meu último show foi o que
ele mais gostou. Senti que ali meu tiro tinha saído pela culatra, Paulo se
alimentou ainda mais de seu narcisismo disfarçado de amor por mim. Ele agora
estava ali, para cuidar de mim, para me sufocar, para cuidar de mim, para me
dominar, para cuidar de mim, para fazer de mim seu maldito fantoche.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A cada passo de minha morte, dois passos de vida para Paulo.
O que começou em igualdade, no zero, no nível do mar, se tornou uma eterna corrida
de cada um por si. Eu enxergava a linha de chegada, meu fim, minha libertação:
a morte. Paulo, sempre mais ambicioso, se cegava ao subir minhas montanhas e
sempre enxergar o além: haveria limites para sua embriaguez de vida e de
narcisismo?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A verdade é que Paulo havia roubado meu eu. O meu eu e de
tantas outras pessoas que passaram por sua vida. E eu só queria ter passado.
Passado desta vida: pra outra, ou pra nenhuma. E assim fracassei. E assim o
gosto de sangue me calou na cama do hospital. E assim o gosto da morte foi
removido de meu estômago. E assim essa cicatriz na minha barriga me mostra como
os médicos foram como Paulo: mais eficientes em me limpar e saber o que era
melhor para mim. E aqui, nessas linhas, tento morrer mais uma vez. Morrer aqui,
onde Paulo não saberá do velório.</span><o:p></o:p></span></div>
Igor Damascenohttp://www.blogger.com/profile/11163447904774985016noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2149013487114727994.post-71188625028819129882014-02-02T18:54:00.000-02:002014-02-02T18:57:31.308-02:00Dois de Fevereiro<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-Não me venha com essa,
Neide. Sabe muito bem que deve ter sim algo em especial nesse menino. Onde já
se viu nascer no dia do aniversário do pai? É muito orgulho. Me enche de
orgulho esse muleque. Dentro de tantos dias do ano, 365 não é Neide? Dentro de
tantos dias e ele escolhe justamente o meu pra nascer. E depois você ainda não
quer que ele seja meu preferido?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-Seu imbecil! Você não pode
ter isso de filho preferido! Fica aí mimando o Ricardinho e ele tá crescendo um
idiota completo e ainda vai conseguir a façanha, Alberto, vai conseguir a
façanha de ser um homem mais idiota do que você. Você, Alberto, você que é um
idiota completo e todo mundo sabe, mas ó: eu vou me separar mesmo de você, não
é de hoje que falo isso, vou me separar mesmo e você vai ver! Agora filho não,
Alberto. Filho é pra sempre. Não quero que o Ricardinho seja imbecil igual a
você e case com uma mulher boa que vai sofrer igual eu. E o pior é que mulher
assim arranja, Alberto, arranja porque você me arranjou. Eu era tão jovem,
bonita, cheia de vida e ainda me casei com você... e não tem isso de escolher o
dia pra nascer, seu imbecil! É a última vez que te falo e eu vou me separar de
você logo, vou sim, eu vou...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-Ah tá? Agora a culpa é só
minha? Isso, isso. Clap, clap, clap. “Vamos botar a culpa no Alberto”. “Vamos
botar TODA A CULPA nele”. Desde MILNOVECENTOSESETENTAEUM Alberto Augusto
Ferreira levando a culpa de tudo. É impressionante, Neide. O Ricardinho faz de
tudo por um pouco de atenção e você sempre ignorando o pobre do seu próprio
filho. Não foi no futebol semana passada pra ir na casa da sua mãe com você. Não
foi no cinema com a Patrícia porque eu tive que te dar dinheiro pra comprar
suas coisas não sei onde. Ele tentando esquecer a Bianca e nem pode ir no
cinema com outra. E sem contar que, você sabe, largou a Bianca POR SUA CAUSA e
até hoje sofre por ela. Onde já se viu, Neide? Não te pesa a consciência? Largou
aquela bonitinha da Bia por causa de você que ficava cismando que ela parecia
com a Cláudia... E você nunca vai entender isso, não é, Neide? Agora o coitado
do Ricardinho perdeu um mulherão daquele, linda, linda. Olhos verdes, loirinha,
educada, de família, o bairro todo queria. E ele consegue pegar ela e ficar com
ela e gostar dela e tudo com ela, você sabe que ele fez tudo. Mas nem tudo é
suficiente, não é? Agora ele vai ser obrigado a acabar casando com outra que
não gosta. E larga de bobeira, Neide. Sabe que isso não tem nada a ver com a
Cláudia. Foi só um lance de juventude nada mais. Passou, passou. Eu nem penso
mais nela e no que seria se tivesse ficado com ela. Bonita ela tá sim, Neide,
bonita ela tá. Tá conservada? Tá, é verdade. Mas vai falar que agora a culpa é
minha? Bonita ela sempre foi e se ela se conserva é bom sinal, não é? Sinal que
tá bem de saúde. Deveria servir de exemplo, eu não tenho culpa, tenho? E você
sabe que nem era pro Ricardinho nascer dia dois. Ele mesmo se adiantou para
nascer no dia do pai. Ou você não lembra disso, Neide? A própria mãe não lembra
do dia do nascimento do filho. Típico seu, Neide. Você que todo ano faz tanta
festa e tanto fuê pro aniversário do Tiago e da Laís. Mas pro filho do meio,
sobra alguma coisa? Nada... e ainda reclama dele ser meu preferido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-De novo a vaca da Cláudia,
Alberto? De novo? E o respeito? Não tem mais mesmo? Acabou o pouco que tinha?
Então vai lá, garanhão. Vai lá e fica com ela. Vamos ver se ela vai te querer.
Aquela vaca velha gorda enrugada cheia de maquiagem com plástica mal feita
piranha baranga mal vestida. Vai lá então, já que acha ela tão bonita e vamos
ver então se ela vai te querer. Você todo barrigudo aí fica se achando jovem. “Nossa,
olha que velho maneiro, gente... ele usa as roupas do filho de dezenove anos”.
Ridículo, Alberto, ridículo. Fica aí usando as roupas do Ricardinho e achando
que tá jovem. Cria tipo de gente, velho ridículo. Tanta roupa boa de homem
sério e fica aí usando camisetinha de marca dando uma de jovem. E faço sim a
festa que quiser no aniversário do Tiago e da Laís. Tenho que fazer festa
porque você não dá um presente bom pros dois, é só Ricardo, Ricardo, Ricardo.
Ricardinho no céu. Óh, Santo Ricardinho...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-Eu uso a roupa que eu
quiser, viu Neide? Uso mesmo porque fica bom em mim e além do mais, foi com o
dinheiro de quem que ele comprou? Com meu dinheiro. Aliás, uso só umas duas ou
três camisetas, as outras duas foi ELE que me deu de aniversário. O Tiago e a
Laís não, só servem pra me dar chinelo e lenço de aniversário. Tá certo, eu
gosto, gosto deles. Reconheço o esforço deles pra me agradar e essas coisas,
mas com o Ricardinho é diferente. Ele me entende. O único dessa casa que me
entende e sabe do que eu gosto. Vai dizer que não tem uma ligação? E você aí,
toda enciumada é porque sabe que eu estou novo e essas roupas ficam boas em mim
e você não pode usar roupa nenhuma da Laís porque engordou e envelheceu. Fica,
fica com os dois. Dois filhos só pra você e eu só quero um. Do que ainda
reclama? Eu nunca fui o filho preferido do meu pai e me dei bem na vida!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-Se deu bem na vida,
Alberto? Em que vida? Porque se for na vida de marido e de pai, sinto te dizer
mas você é um fracasso! <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Alberto não respondeu mais. Suspirou
fundo. Foi até a geladeira e pegou uma cerveja. Virou no corredor e foi rumo ao
quarto de Ricardinho. Ouviu Neide gritar: Ai dela se ela visse o marido dando
um gole de cerveja pra um filho dela debaixo do seu próprio teto. Alberto
também não respondeu. Também não achou Ricardinho no quarto. Apenas a bagunça
de seu quarto. Em cima da cama, uma camiseta amassada. Pegou, amassou, sentiu o
cem por cento de algodão. Se perguntava se essa era a daquela marca que Ricardinho
tanto pediu para ele no mês anterior. Não, não era. Acabou se lembrando do dia
que Ricardinho saiu com Bianca. Ele estava com essa camiseta da gola bonita.
Camiseta cheirosa. Alberto cheirou a camiseta. Que cheiro bom. Era de
Ricardinho? Era de Bianca? Por que não podia ser de Alberto?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Tirou sua camiseta velha e
de velho. E com ela enxugou suas lágrimas, enxugou seu suor. Vestiu a camiseta
de Ricardinho. Se olhou no espelho. Ficou bem. Ficava bem com aquela camiseta,
com aquele cheiro. Aquele cheiro haveria de ser dele. Murchou a barriga,
endireitou sua coluna. Colocou a mão dentro do bolso da camiseta. Achou um papel
amassado. Bianca: Rua Rio de Janeiro, 455. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Pegou o carro. Não respondeu
Neide dizendo aonde ia. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Neide se preocupou. Será que
voltaria tarde? Será que daria tempo de ligar para o Lucas, amigo do
Ricardinho? Era melhor não arriscar. Amanhã Alberto iria pro trabalho. Era
melhor não arriscar. Mas Neide estava se sentindo tão sexy com a calcinha da
Laís...<o:p></o:p></span></div>
Igor Damascenohttp://www.blogger.com/profile/11163447904774985016noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2149013487114727994.post-63506682559896557422014-01-23T14:12:00.000-02:002014-01-23T14:12:34.312-02:00É tempo de rolezinho<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
É tempo de rolezinho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E o nosso já vai começar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não vamos para shoppings grandes
reivindicar a nossa presença.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Porque aqui não há grandes shoppings.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E se houvesse, e nós fossemos,
também não seríamos expulsos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Temos meia dúzia de roupas
adequadas para o ambiente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Moramos mal, às vezes no morro. Comemos
mal, mas sobra dinheiro pra cerveja barata. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sofremos com o aluguel. Mas não
temos nenhum vizinho traficante.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Somos, na grande maioria,
brancos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mas, se for o caso, nos
declaramos negros e entramos pelas cotas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Entraremos mesmo é no ônibus. São
João del-Rei/Tiradentes. Vamos nos espremer e quem sabe arranjar um lugar pra sentar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Vamos todos, galera. Chamem
todos. O pessoal da sala, o pessoal do curso, o pessoal da república.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nos encontramos na rodoviária, ou
talvez, na república para um esquenta.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A bebida é cara, vamos encher a
cara aqui mesmo e já chegar no grau.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Podemos também levar na mochila
uma bebida pra economizar e nos mantermos bêbados.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Vamos logo, se apresse. Já
colocou sua melhor roupa? Aquela camisa xadrez
que você usou pra ir na balada sertaneja. Um cachecol, mesmo que no
calor. A boina que roubou do seu avô. Arranja logo um óculos de aro grosso sem
grau. No pescoço sua câmera semi-profissional. Camufle-se.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Vamos logo, se apresse. O ônibus
já vai passar. Vamos chegar logo, ver dois ou três filmes, quem sabe uns
curtas. Pode ter um complicado de entender. Só não vale admitir. Faça de conta
que gostou, que entendeu, que já tinha ouvido falar. Diga o quanto estava
ansioso para contemplar tal arte.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Perdeu o ônibus, amigo? Não deu
tempo de chegar para os filmes? Não se preocupe. Ainda tem o último. E o último
é o mais importante, não é? Ele te leva ao que interessa: O show. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
It’s showtime! Encontrou amigos
no show? Que legal! Vamos todos curtir juntos. Mas se alguém perguntar sobre os
filmes, não se afobe. Comente o quanto achou interessante a sessão das nove. Solte
frases genéricas de efeito: “Achei muito poético”. “Retrata bem a realidade”. Não
quer se arriscar tanto? Solte um “Maaaassa” com um tom reflexivo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No palco, alguma banda de MPB,
Jazz, música pura e instrumental. Canções semi-conhecidas ou semi-desconhecidas
que você, obviamente, vai dizer que ama. Não sabe a letra? Não se preocupe.
Segure o copo de bebida junto ao corpo, olhe para o horizonte e balance na “vibe
da música”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Depois do show, tenha cuidado ao
vagar pelas ruas de pedra. Capriche na fonética. Use um léxico que não é tão
seu. Apesar da companhia de seus amigos da mesma cidade, você não vai querer,
logo de cara, dar na cara que é nativo. Do interior de minas. Bom mesmo é se camuflar.
Há cariocas, paulistas e sulistas por todo lugar. Se der sorte, ainda se
encontra gringos. Franceses, americanos, italianos, gente do mundo inteiro. É a
magia do cinema! Você vai querer estragar tudo por conta de seu sotaque? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Recebeu convites ao longo da
cidade para uma balada depois do show? Diga que vai! Não vá transparecer assim
que comprou cerveja no único, e mais copo sujo, bar da cidade. E com o troco
ainda comprou um pastel de três reais. Vai dar na cara que não tem 30 ou 40
reais pra entrar na festa da cervejaria?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não deu pra ir mesmo, não é? Não
se preocupe, você pode procurar algum agito mais em conta. Será que tem
movimento no chafariz? Não tem? Dê mais umas duas ou três voltas pela cidade.
Sim, tem muitos morros e as ruas de pedra cansam mais e mais seus pés tão bem
calçados pelo seu melhor calçado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Cansou? Cansou mesmo? Não tem
mais nada? Não tem mais nada mesmo? Corra logo então pra pegar o ônibus de
volta!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E... Não tem mais ônibus! E
agora? Como proceder? São duas e meia da manhã e você aí, sem ter como voltar.
Vai lá na praça, quem sabe tem uma van? Não tem vans! Por que será? Olha o
preço do táxi, quem sabe dá? Quem sabe seus amigos fazem uma vaquinha e vocês
conseguem ir? Não deu mesmo né?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Volta na rodoviária. Confere lá
se não tem mesmo mais nenhum ônibus. Não tem mesmo, né? Só as sete da manhã!
Será que não tem nenhum, nenhunzinho conhecido de carro pra poder dar carona?
Não tem mesmo, né? O jeito vai ser deitar na rodoviária e esperar. Bom que você
descansa, né? O dia tão agitado e tudo que você quer agora é descansar.
Descansar na sua casa seria o ideal. Mas e daí? Em Tiradentes você se sente em
casa, não é?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E se alguém te ver deitado na
rodoviária, também não há o que temer. Aproveite. É o festival de Cinema de
Tiradentes. Dê uma de ator e improvise dizendo que seu amigo “bodou” e você só
está ali para ajuda-lo. E se esse alguém for conhecido aproveite e já combine
de voltar no dia seguinte.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Finalmente o ônibus chegou. Ufa!
É hora de voltar pra república. Quem sabe ano que vem, juntando uma grana e com
alguns meses de antecedência você não consegue fazer uma reserva numa pousada?
Mas ainda há tempo. Depois você pensa nisso. Você está cansado e é melhor
descansar. É melhor renovar as energias, pois amanhã começa tudo de novo.<o:p></o:p></div>
Igor Damascenohttp://www.blogger.com/profile/11163447904774985016noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2149013487114727994.post-43253518882088685332013-08-18T17:06:00.000-03:002013-08-18T17:06:14.042-03:00Serendipidade<div class="MsoNormal">
um poeta exilado</div>
<div class="MsoNormal">
achou abrigo em mim</div>
<div class="MsoNormal">
e ainda anda se manifestando</div>
<div class="MsoNormal">
dizendo ao mundo </div>
<div class="MsoNormal">
o aperto que passa aqui dentro</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
o poeta exilado</div>
<div class="MsoNormal">
que achou abrigo em mim</div>
<div class="MsoNormal">
não trouxe bandeira partidária</div>
<div class="MsoNormal">
nem garantia monetária</div>
<div class="MsoNormal">
mas não deixa de escrever à amada</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
descobriu </div>
<div class="MsoNormal">
que quer mesmo é ajudar</div>
<div class="MsoNormal">
com filantropia
poética</div>
<div class="MsoNormal">
quer curar doenças</div>
<div class="MsoNormal">
alimentar a alma</div>
<div class="MsoNormal">
educar os olhos</div>
<div class="MsoNormal">
dar de brincar onde há criança</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
o poeta exilado</div>
<div class="MsoNormal">
que achou abrigo em mim</div>
<div class="MsoNormal">
parece falar outra língua</div>
<div class="MsoNormal">
mas até entendo quando</div>
<div class="MsoNormal">
diz que quer ficar</div>
<div class="MsoNormal">
e não comprou passagem de volta</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
tem um poeta exilado</div>
<div class="MsoNormal">
que achou abrigo em mim</div>
<div class="MsoNormal">
e eu nem sei por qual fronteira ele passou</div>
<div class="MsoNormal">
guarda nenhuma o persegue</div>
<div class="MsoNormal">
nem há recompensa para qualquer informação</div>
<div class="MsoNormal">
que leve a sua captura</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
um poeta exilado </div>
<div class="MsoNormal">
achou abrigo em mim</div>
<div class="MsoNormal">
e os americanos</div>
<div class="MsoNormal">
aqueles putos</div>
<div class="MsoNormal">
não enviam ajuda</div>
<div class="MsoNormal">
aí fica difícil</div>
<div class="MsoNormal">
matar dois de mim com um poema só.</div>
Igor Damascenohttp://www.blogger.com/profile/11163447904774985016noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2149013487114727994.post-44926175539244685532013-07-22T23:54:00.000-03:002013-07-22T23:54:07.573-03:00Per un pugno di samba<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Eu, que vou vivendo sem ser muito de querer, sem ser muito de
ganhar, queria ganhar a vida dizendo o quanto você é linda. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Se fosse artista pintaria uma tela, uma obra prima daquelas
tapa na alma, à frente de nosso tempo. De nosso tempo que ficou pra trás e que
tento trazer de volta em cada tom da aquarela cotidiana das ruas. Uma tela cúmplice dessas admirações súbitas
que sinto ao te olhar, que me prende o juízo e escassa o ar dos meus pulmões.
Uma tela que ficasse pendurada lá no Louvre ou na casa da minha vó Lourdes
retratando meus sentidos exagerados de moço. Ou se eu pintasse igrejas! Igrejas
todas só para te consagrar. Daí então os anjinhos ao pé da cruz teriam sua
doçura e as santas seriam concebidas mais cheias de graça porque olhariam com a
sede de seu brilho. Explicaria o sagrado: haveria lucidez na beleza. Valei-me
Deus!<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Se fosse um químico, inventaria uma droga bem forte e
alucinógena que desse o seu barato. Intravenosa, indolor e viciante. Daquelas
que dilatam os olhos da alma. Minha refinaria seria você. Você onde meu coração
é doce e meus sonhos são verdes. Quanto agito, meu Deus! Quanta experiência
nova você me traz! Me vê mais uma dose? Eu bolaria um plano infalível de
tráfico internacional. Bem interno pra externo mesmo, algo que pudesse te
transportar daqui de dentro lá pra fora, sem falhas. Sem te ter e sem te perder.
Sem crimes, sem vícios, sem prisões.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Se passasse num concurso público, fosse parente de algum
político, arranjasse uma bocada das boas, seria um burocrático com prazer.
Trabalharia de segunda a sexta, de nove às cinco, só na marotagem. Ia mandar
fazer um carimbo bem grande que dissesse o quanto você é linda. Um carimbo só
não, um monte! De um monte de cor diferente, sempre tentando dizer de um monte
de maneiras o quanto você é linda, carimbando toda a papelada da cidade. Toda
cobrança, todo recibo, todo mandato de prisão, todo cartão de natal de
vereador, tudo, tudo. Tudo com um carimbo bem grande oficializando sua lindeza
pro mundo todo ficar sabendo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Se você, princesinha, fosse uma rainha, eu seria seu bobo da
corte. Um bem bobo, não desses de fazer piadas, dar cambalhotas e Deus me livre
ter que me vestir de palhaço! Um bobo atônito, com olhar perdidinho de
contemplação, em perceptível estado de graça. Igual eu fiquei quando te
conheci, lembra? Um bobo ali sempre pronto em qualquer lugar de seu reino,
sempre pronto pra te bendizer a qualquer hora. Pronto pra dizer pra você o
quanto você é linda. Pronto pra dizer em seus momentos reais de alegria, tédio,
paixão, desilusão ou de humanidade qualquer. Discursaria para todos os súditos
do mundo, ou se quisesse, apenas para você, regente de seu reino intimista.
Você é linda! Você é linda! –Diria seu bobo particular, sem bobeiras de
primeira viagem. Que doidera, né? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Mas se eu fosse um doido, doido mesmo, desses que todo bairro
tem, gritaria seu nome dia e noite pra acordar todo mundo. Pra todo mundo ficar
de acordo comigo, com a mensagem que levaria aos quatro ventos da poesia tacando
pedras em aviões. Tomaria banho no chafariz da praça proclamando que vi a luz.
É, é, eu vi a luz! A luz do discernimento, não a luz desses postes que andaria
chutando de madrugada tentando apagar. Gritaria que vi a verdade e seguiria
mais tranquilo na vida, com as certezas mais comuns dos homens comuns, a
certeza de não saber até onde vamos, mas que temos por onde começar. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Se fosse um escritor... ah se fosse um escritor! Um daqueles
bem grandes, com sobrenome e tudo. Te transformaria em versos, numa musa
daquelas viajantes das páginas que atravessam séculos e séculos. Te batizaria Laura,
Beatriz ou qualquer nome em italiano clássico. Mas a verdade é que prefiro o
seu nome. Deixamos os cânones pra lá. Deixamos as concepções antigas pra lá.
Seremos nosso próprio movimento. Não quero que me entendam em italiano. Quero
me sintam nessa língua universal, nessa língua sem palavras que todos
carregamos conosco. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Sentiu?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ah, lindinha. Se eu fosse escritor juro que perderia essa
noite de hoje só imaginando a métrica desse seu sorriso que me dá a certeza de
que posso ser o que eu quiser.</span><o:p></o:p></span></div>
Igor Damascenohttp://www.blogger.com/profile/11163447904774985016noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2149013487114727994.post-20859560467787131672013-05-11T18:47:00.000-03:002013-05-11T18:47:33.529-03:00Divinóia Desvairada<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">ali na esquina<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">à luz do sol<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">que <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> <b><span style="color: #5f497a; mso-themecolor: accent4; mso-themeshade: 191;">assa<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> crânios<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> crânios? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> <b><span style="color: #5f497a; mso-themecolor: accent4; mso-themeshade: 191;">aí <o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">na esquina? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">capricha no pó<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">me vê um de 10<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">hoje quero muito, muito<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">acho que me viciei<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">culpa desses meus amigos loucos, loucos<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">capricha no leite ninho, moça<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">capricha no leite moça, moça<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">pode um pouco de banana também<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">com granola paga mais?<o:p></o:p></span></div>
Igor Damascenohttp://www.blogger.com/profile/11163447904774985016noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2149013487114727994.post-45447338278937187482013-04-27T12:32:00.000-03:002013-04-27T12:32:32.882-03:00O que tenho<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"> Ele não vai conseguir pegar aquela menina, não vai. Não ele,
todo desse jeito dele. Olha lá, diz que fez intercâmbio pra Áustria, Austrália,
sei lá pra onde. Já deve tá falando isso com ela. Conhecimento ele tem mesmo.
Não vou negar. Fez curso de inglês um tempão quando moleque e judô e natação.
Pra mim era só jogar bola, mas nem ligo porque jogar bola era melhor mesmo e a
menina não parece ser destas que curte essas coisas de conhecimento e não vai
se impressionar. Devia ser eu lá falando com ela, porque sou muito mais
simpático e esse cara nem sabe de simpatia. É que ele tem esses dentes brancos
e certinhos, olha só, tô vendo até daqui. Os meus dentes são meio amarelados
assim e quebrados por conta do café da minha avó que é bom demais e eu tomava
bastante, e comia uns biscoitos de polvilho que às vezes ficavam duros depois
de um dia pro outro e quebrava, entortava os dentes. Devia ser eu falando com a
menina, falando dessas coisas todas da minha vida e ela rindo, passando a mão
nos cabelos, olhando pra mim com aqueles olhos cor de verde, sendo cheirosa e
eu cheirando sentindo seu cheiro querendo cheirar mais e de mais perto. Eu vou
lá, falar com ela, quem sabe um cheiro, eu vou lá, sou simpático e quem sabe. Mas
peraí, olha ele lá agarrando ela, pegando beijando apertando indo pro canto e
hoje tem.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"> Na rua ali aquele outro cara lá falando de gírias com aquele
outro. Falso demais. Falso que nem eu falando meu português corretamente. Saber
eu sei, mas fica falso. Sabe, não pega bem em mim. Mas saber eu sei, sei dos
verbos e todas dessas coisas de ler. Estudei numas escolas péssimas, mas corri
atrás, fui à luta, sou batalhador, guerreiro, pardo, devia dar palestras nas
escolas ruins, dar exemplos, devia aparecer na tevê, fazer umas propagandas do
Governo Federal. Sei de saber português e sei de saber das gírias, conheço os
chegados. Não mexem comigo. Quer dizer, teve aquela vez do Fabinho que mexeu
comigo, mas não ficou muito bom pra ele, pegou mal, mexer comigo que sou de lá.
E daí?, importa é que nunca me assaltaram no meu bairro, tá ligado? E o outro
cara ali falando de gírias bem que pode ser assaltado porque acha que tá
passando de marginal. Deve tá querendo maconha, comprar a maconha, enrolar a
maconha, fumar a maconha. Maconha eu até já fumei eu sei, não precisa me olhar
com essa cara, eu explico: eu tinha que saber como era e o Michael me ofereceu
e eu sou simpático, o Michael é meu amigo há muito tempo de jogar bola na rua,
e ele enrolou e a gente fumou, eu sou simpático não podia fazer desfeita com o
Michael. Acontece que no bairro dizem que o Toninho começou assim e olha lá
como ele tá, todo fodido na merda, e o cara lá das gírias e da maconha pode
pagar clínica de reabilitação e virar crente, eu só posso virar Toninho e não
quero virar Toninho não.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"> Simpatia, é isso que tenho. Esse povo não tem. No serviço lá,
aquele dia, aquele engomadinho que chegou lá, lembra? Roupa social, camisa de
gola eu até tenho, mas nem uso pra trabalhar buscar trabalho porque não
preciso, tenho simpatia, sei que tenho. Chegou dando conta de economia, que
mexeu com contabilidade, eu nem direito o que é isso, mas tem um monte de gente
que tem isso de contabilidade. Acontece que o pai do menino tem empresa, tem
sobrenome, aí ficou mais fácil pro menino porque o pai dele tem a empresa com o
sobrenome dele, onde o menino trabalhou de contabilidade. E eu nem sei onde meu
pai trabalha, onde mora, meu pai não sabe onde eu trabalho, onde eu moro, e que
onde eu moro o dono da casa já disse que vai aumentar o aluguel e eu vi que vou
ter que mudar porque com o que tenho de salário do trabalho não vai dar. Se eu
ganhasse o salário do menino da gola de sobrenome do polo pai social
engomadinho contabilidade roupa, até teria dinheiro, porque o patrão acabou
contratando ele e agora ele trabalha lá, tem dinheiro do salário além do
dinheiro do pai. Mas ele não vai durar muito tempo lá não que eu sei, aí eu
teria os dinheiros dele, mas não teria muito
tempo de serviço, porque ele nem conversa com o porteiro lá do trabalho, nem
com o faxineiro e com a moça da cozinha. Aí eu sempre converso porque sou
simpático e sei de conversar as coisas deles, e o patrão deve gostar muito
muito de mim por isso e não vai me mandar embora tão cedo, mas bem que podia
aumentar meu salário, ein patrão, porque o aluguel vai aumentar e meu pai tem
sobrenome em português mesmo, só que não posso provar porque não tenho na
certidão, mas ele mesmo fala que é meu pai e me deu uma bicicleta quando fiz
dez anos. Dá o aumento aí, dá, patrão.
Considera a simpatia.</span><o:p></o:p></span></div>
Igor Damascenohttp://www.blogger.com/profile/11163447904774985016noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2149013487114727994.post-57963211948659971712012-11-15T15:11:00.000-02:002012-11-15T20:10:31.282-02:00Prefiro café<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Minha ex-dentista (e dá até um certo orgulho chamá-la assim
de minha ex) era bonita demais para despertar confiança em alguém. Loira,
gostosa, cabelos sempre ao vento do ar condicionado do consultório. Na flor da
idade e com seu sobrenome italiano, daria pra ela a média de uns 26 aninhos
muito bem vividos na gema da Zona Sul e um diploma de Odontologia conseguido após
muito e$forço na faculdade particular mais cara da cidade. Sempre com jeans
justo como o inferno cristão, tênis branco das melhores marcas, e debaixo do
jaleco nunca lhe faltava uma blusinha levinha e casual que não chamasse
atenção. A atenção ficava mesmo por conta de seus peitos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Ah, aqueles peitos. Certamente a forma mais eficaz de
anestesia já inventada. Eu lá sempre inclinado naquela cadeira desconfortável,
com uma luz enceguecedora direto nos olhos sempre sonolentos e com a boca
aberta. A boca aberta, as babas caindo, uma mangueirinha sugando tudo que
encontrasse por dentro, até mesmo o oxigênio necessário para manter os pulmões
de um pobre asmático funcionando razoavelmente. Aqueles peitos sempre pulando
em direção à boca aberta. Peitos estes, que como a sua dona, eram bonitos
demais para despertar a confiança de alguém. Sempre querendo escapar, pular pra
fora da blusa, arrebentar os botões do jaleco e partir do plano das ideias para
o glorioso mundo das realizações.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Das nossas conversas, feitas através de onomatopeias e sons
monossilábicos possíveis de se pronunciar com a maldita mangueirinha sugadora,
lembro-me de pouca coisa produtiva. O que marcou mesmo foi a blasfêmia soltada
por aquela pecadora. Lembrei-me na hora das bruxas sedutoras travestidas de
fadas, prontas pra dar o bote nos nobres cavaleiros solteiros. Lembrei-me das
bruxas queimadas em praça pública na Idade Média, e por um instante, pareceu-me
um castigo brando demais.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Foi assustador. Em português bem claro, com seus lábios
deliciosos com batom bem claro, ela amaldiçoou-me:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">-Seus dentes vão amarelar. Tem que parar de tomar Coca-Cola e
café.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><span style="line-height: 115%;">Vá de retro, Satanás! Exorcizo-te
in nomine Dei! </span><span lang="EN-US" style="line-height: 115%;">The Power of Christ compels you!<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><span lang="EN-US" style="line-height: 115%;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Quisera eu ter também uma mangueirinha sugadora de pecados,
para limpar a boca desse povo que não sabe o que fala. Quisera eu ter uma
bíblia, uma água benta com ou sem flúor, falar cinco línguas indo-europeias
mortas. Quisera eu ter defesa contra peitos. Quisera eu ter pálpebras nos
ouvidos para blindá-los de escutar tanta merda.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">-Prefiro ficar sem dentes a ficar sem café. Pra mim já deu.
Foi bom te conhecer. Tome aqui seus cento e poucos reais. Gaste-os pagando uma
das oito prestações de um sapato de grife seu. Calce esse sapato que vai
empinar ainda mais sua bunda. Pegue essa sua bunda e conquiste algum empresário
numa sexta-feira na boate top da cidade enquanto escuta sertanejo. E que esse
empresário pegue esses seus peitos e...<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Apertei os peitos dela bem forte. Ela gritou, chamou socorro,
me chamou de louco. Dei-lhe razão. Não consigo me defender de quem me chama de
louco. Saí, fui direto pra padaria e pedi um expresso para aproveitar os dentes
que me restavam.</span><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></div>
Igor Damascenohttp://www.blogger.com/profile/11163447904774985016noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2149013487114727994.post-72030475125660578232012-11-14T15:08:00.000-02:002012-11-14T15:08:09.809-02:00Vermelho como o céu<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Na minha antiga rua da minha antiga cidade até que passavam
alguns carros, porque era praticamente caminho pro Centro. Ainda mais naquela
vez quando arrebentaram uns canos e uns esgotos na rua de cima, aí os carros
todos passavam de lá pra cá, desviando a rota cotidiana, indo e vindo tudo
apertadinho no meio das terras, e eu ficava me sentindo morador de cidade
grande no meio daquele montão de carros. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Ficava imaginando eu morando num apartamento, desses de
cidade, que eu pegaria elevador pra descer e ir à padaria às cinco da tarde e
no meio disso tudo cumprimentar o porteiro falando de futebol. Ficava também
entre o alívio e a dó, sabendo que já passei na idade de jogar bola na rua, mas
sentindo pena dos meninos que perderiam essas coisas fundamentais.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Já nas ruas lá de baixo, nunca passava carro nenhum. Nem carro,
nem menino jogando bola; mal mal passava o leiteiro. E é de uma rua de lá que
eu lembro duma história. Foi o caso do Seu Nelson, coitado. Foi num dia de
semana mesmo, só não lembro o qual. Mas o fato é que o Seu Nelson tava lá,
sentadinho na porta de casa proseando com um vizinho, falando sobre o que
falava há tempos: o quanto os tempos estavam mudados. E nisso aí, conversa vai,
conversa vem, carro não vai, carro não vem, veio no Seu Nelson uma vontade de
chamar o compadre, que morava doutro lado da rua pra prosear também. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Vruuuuuum!!!, Bbââââââââ!!!, Qrrrrrrrrr!!!<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Segundo Seu Nelson, um estrondo parecido com desses filmes
americanos que falam inglês. Achou que ia morrer igual ator alto de olho azul.
Mas com efeitos especiais da vida real, se safou por um triz, por descapricho
do azar, por milagre de Nossa Senhora.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Mas foi mesmo um baita dum barulhão, carro vermelho em alta
velocidade, buzina cortante carregada por metros e metros, e uma freada brusca
lá na frente só pra não poder falar que o motorista não parou.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">A rua inteira ouviu e todo mundo saiu de casa preocupado: ou
era o apocalipse ou era gente da cidade passando por ali, embora a maioria não
enxergasse muito a diferença das duas situações. O vizinho que conversava, se
acovardou, virou a cara, endureceu o corpo, fechou os olhos, tapou o ouvido,
engoliu seco, rezou pro santo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Dona Jandira, esposa do Seu Nelson, saiu com pressa mesmo sem
saber o que tinha acontecido. E viu o pior: Seu Nelson, branco feito leite,
enrugado como maracujá e caído ali no chão que nem uma jaca espatifada. Dona
Jandira ali parada com a vasilha do angu nos braços e o Seu Nelson lá, parado,
escondido na poeira da rua que ele mesmo levantara. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Foi grito pra tudo que é lado. Grito, choro, xingamento,
reza, palavrão, angu. O motorista, que havia parado pra ver o que aconteceu,
achou melhor sair correndo, dessa vez ainda mais rápido do que quando atropelou
o Seu Nelson.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Quase que a rua inteira, sem saber o que fazer, só sabia
culpar, injustamente, a Dona Arminda, que tinha uns parentes “ricos” de São
Paulo que costumavam ir visitá-la de carro. Dona Arminda, em choque com o Seu
Nelson esticado e com a rua acusando o povo dela, se defendia: -Não foi ninguém
meu não, gente, como cês podem pensar uma coisa dessas? Nunca vi carro vermelho
na vida!<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Enquanto isso, o pragmático, Armindo, foi socorrer Seu
Nelson. Perguntou umas coisas que o velho não conseguiu responder, mais pelo
susto do que por qualquer arranhão. Armindo, o pragmático, pegou Seu Nelson nos
braços e levou pra casa em frente, a do compadre. Deitou o velho lá na cama de
casal, onde ficou quase o dia inteiro.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">A casa do compadre havia virado uma mistura de velório e
maternidade. Gente feliz pelo Seu Nelson não ter morrido, gente preocupada
achando que ela ainda podia morrer. Dona Jandira ficou lá na cadeira ao lado da
cama chorando sem parar. Em volta da imagem da santa, formava-se uma roda de
velhas a rezar fazendo ligação direta pros céus com terços nas mãos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">A comadre na cozinha, fazendo biscoito de polvilho e café
pras visitas que chegavam pra ver o acidentado. Os homens no corredor, falavam
sobre o que viram, sobre os barulhos que ouviram e sobre como matariam o motorista
se ele voltasse lá na rua. Armindo, pragmaticamente, fazia perguntas pro Seu
Nelson regularmente, pra ver se ele sentia isso, se sentia aquilo. Seu Nelson
falava que doía mais de susto do que de dor mesmo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Como Armindo havia alertado, um dia depois Seu Nelson já
estava firme como o governo do Getúlio. Tudo resolvido. Hora das velhinhas
começarem a pagar as promessas e da Dona Jandira receber as visitas com a
receita de biscoito de polvilho da comadre. Hora dos homens escutarem como Seu
Nelson se livrou do carro feito agente secreto. Como o vizinho medroso havia
fechado os olhos na hora da cena, não havia sobrado testemunhas. Seu Nelson
sentia-se aliviado, livre para contar qualquer versão do acontecimento. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Seu Nelson morreu uns dois anos depois, por causa de uma
pneumonia. Passou esses uns dois anos contando a história do carro que o
atropelou, de como ele viu a cara da morte, etc. Num ponto foi até bom, porque
semana passada vi uma história que eu não aguentaria esconder dele. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Tava eu na cidade, no alto do prédio que moro, observando os
carros das seis da tarde. E num buzino seco, cortando que nem cachaça, veio um
carro desses vermelhos mais novos, e plaft. Atropelou alguém, que nem deu pra
ver se era velho igual Seu Nelson ou se era novo como eu. E o velho, ou o novo,
morreu. Morreu de verdade. Ficou lá esticado até os bombeiros irem buscar.
Ficou lá atrapalhando o trânsito. Todo mundo reclamou que ele ficou lá
atrapalhando o trânsito. </span><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></div>
Igor Damascenohttp://www.blogger.com/profile/11163447904774985016noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2149013487114727994.post-66624670649746625832012-09-02T19:48:00.000-03:002012-12-23T23:09:53.404-02:00fluxo<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">este poema</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">coloco numa garrafa</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">e lanço ao mar</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">na esperança de</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">um dia</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">você ler</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">se não alguém</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">um dia</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">ao ler</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">mesmo sem nos conhecer</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">vai saber</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">que ainda gosto de você</span>Igor Damascenohttp://www.blogger.com/profile/11163447904774985016noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2149013487114727994.post-27418147795954897902012-09-01T17:51:00.000-03:002012-09-01T17:51:07.756-03:00Haicais<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>Semente</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">planto uma ideia</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">haicai é bonsai</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">de poesia</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>Fuso-Horário</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">me oriente</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">já é poesia </span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">no ocidente?</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>Haicais</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">ando cheio de glória</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">por caberem</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">em minha memória</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>Eurocêntrico</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">abaixo do trópico</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Deus é</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">misantropo</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>O segredo</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">se eu cair </span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">em mim</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">rio do tombo</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>Modéstia</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">é melhor</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">me ler,</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">millôr</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>Leminski de Poemas</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">ali se</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">tem</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">alicerce</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b>Feliz</b></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">até </span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">um haicai ruim</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">me lembra Ruiz</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>Igor Damascenohttp://www.blogger.com/profile/11163447904774985016noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2149013487114727994.post-31823433852543976282012-08-04T15:23:00.000-03:002012-08-04T15:23:25.494-03:00Café com Crime<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Foi a própria dor que me curou. Observar, se diluir e então
se externar. Só assim é possível não se acalentar. Não saber se está acima ou
se existe o abaixo. Afastar-se pra si. Colher das ruas os cânticos da
inquietação. Se alimentar de um nós impessoal. Se embriagar de ser cotidiano.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Já avisam as pichações nos muros: só quem é de lá entende. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Valorize seu tato. Há um caminho de evidências. Verão: nada é em
vão. Não que seja de valor a arquitetura de um círculo. Não que valha o
ingresso. Revolução: as engrenagens ultrapassaram as indústrias. Roda, roda, grande circo
vicioso.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Nas sarjetas, nas marquises, um garoto magro com dentes
escassos pede esmola para sustentar o vício de viver. O senhor teria um trocadinho pra
ajudar? Pobre garoto, comeria mais se tivesse nascido cachorro. Alguns metros a
frente, sua mãe o observa. Mulata ossuda e sem expressões, carrega o caçula no
colo, pra lá e pra cá. Observe atentamente, moleque. Você herdará a profissão
do irmão mais velho.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Cultura é o que se cultiva.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Nossa usina quer nos engravatar. Não faz teatro enclausurado,
hermético. Se espalha na cidade como um rio degradado e degradante. Não se
espante com o cheiro. É efeito especial. Divina Comédia do purgatório real.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Subam as cortinas. Mais que uma enorme fábrica de panos
funcionais. À sua moda, não só se veste bem. Se maquia e se encena à céu
aberto. Mal dirigida, faz do viver uma arte; do sobreviver um caos à parte.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"> No interior do
interior não há beleza.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Semana passada mataram dois. No morro, na pitimba. Maria Helena não desce mais ao Centro (tá mal
falada!). São José já cobra por milagres. Se a Terra é Azul, o céu é negro.
Essa é a Nova Holanda: tudo legalizou. Na ponte sobre o Rio, em Niterói, há
pedágio (sub)urbano. As encomendas chegam pelo um Porto Novo. Vai lá buscar?
Cuidado pra não rodar, vacilão! Patrulha cabocla, herois de si mesmo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">O juízo será nosso final.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Lembro-me do Deus antigo que incendiava cidades quando irado.
Para admirar nossa pequenez, somos cúmplices de nós: há fogo de Deus em
Divinópolis. Fogo de fumaça branca. Habemus poesia! Vai saber se foi um cometa ou um anjo de
corneta. Homem de fé, só acredito sentindo. Foi aqui mesmo: a flor brotou na linha do
trem, no meio de ninguém. Pérola aos poucos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Entre um café e um crime, carrego como gado caipira marcas de
vivência. É para sempre, é evidente: sou daqui. Patente em minha pele está a
ambição pré-conformista que torna os divinopolitanos bípedes: ainda vão ouvir
falar de mim.</span><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></div>Igor Damascenohttp://www.blogger.com/profile/11163447904774985016noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2149013487114727994.post-62101081453971721752012-07-24T23:06:00.000-03:002012-07-24T23:06:31.197-03:00sem ter tido<br />
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">há sempre um sentido a
mais<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">derme<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">epiderme<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">poesia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">sensibilidade supracutânea<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">tato estático<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">nada <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">nunca é<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">somente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">há sempre um desdobramento<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">recepção emergente;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">combustão pressagiada;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">dispersão interna.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">desaguar de conceber<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">há sempre um sentido a
menos<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">a menos<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">que se poetize.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">amemos<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">quem se pulverize.</span><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></div>Igor Damascenohttp://www.blogger.com/profile/11163447904774985016noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2149013487114727994.post-34295420236325508052012-02-04T14:07:00.000-02:002012-02-04T14:08:27.222-02:00Declaração de Dependência<p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:12.0pt; line-height:115%"> E você ainda sabe onde me encontrar. Da minha liberdade, queda livre. Da minha falta de casa, causa. Da minha angústia, vigília. Da minha parte desarraigada ainda procurando abrigo em você. Você nos contêm?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:35.4pt"><span style="font-size:12.0pt;line-height:115%"> Não me caibo. Tem sido assim. Tenho me tido assim. Talvez você entenda e eu sinta. Talvez você regre e eu confronte. Mas reajo. Reajo, reajo. Porque talvez ainda me haja fé e eu possa te mostrar.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:12.0pt; line-height:115%"> Considere: me faltam mistérios. Minha compleição é quase paisagem. Pouco vou além do peso de minhas palavras. De pouco esconder morrem minhas fronteiras. Todas expectativas são vertigens. Só presumo por lembranças. Eu desejo seu desejo.<o:p></o:p></span></p>Igor Damascenohttp://www.blogger.com/profile/11163447904774985016noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2149013487114727994.post-18750832112785039232012-01-08T16:40:00.001-02:002012-01-08T16:55:00.453-02:00Eu odeio o Wellington Paulista<p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:12.0pt; line-height:115%">Vai Brasil, libera logo a eutanásia. Acorda logo, deitado eternamente. Acorde, tarde da noite, abra a geladeira, perceba que não tem comida e volte a dormir. Pelo menos dessa vez. Sei lá, dá um jeito, a coisa tá feia. Olhem pro meu lado, nem que seja só agora. Porra, me ajuda aí, caralho. Será que vou ter que escrever uma carta pra presidenta? Pro Senado, Ministério, Tribunal Superior das Coisas Inferiores? Carta do leitor da Veja serve? Mesmo sem ler a porra da Veja, será que serve? Pichar muros, dar chilique na internet ou tentar educar as crianças nas escolas não deve resolver. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:12.0pt; line-height:115%">Alguma religião proíbe isso? Aquela lá que proíbe transfusão de sangue deve achar “pecado”, com certeza. Porra, Brasil. Vai se importar com os crentes? Deixa que Jesus cuida deles. Aproveita. O país inteiro tá na onda aí de vida pós-morte, reencarnações futuras, passadas, anestésicos, alívio de vida presente. Horóscopo, tarô, búzios, orixás. Vamo aproveitar essa onda pra resolver esse meu problema de uma vez. Vamo dar outra chance pro cara. Pra nós. Apagar a existência. Não toda ela, levaria muito tempo e doeria demais. Cortaremos o mais podre dos galhos. Vamo matar logo o Wellington Paulista, caralho.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:12.0pt; line-height:115%">Que venham os defensores dos direitos humanos com seus cartazes, marchas, seus barulhos. Tirem Brasília do ócio. Abram uma daquelas CPIs que nunca dão em nada, se for o caso. Liberem números 0800 e botem uma enquete no Fantástico. Os velhinhos, tentando pertencer a este nosso tempo, tentarão discutir a ideia nas padarias. Será eleita a Musa da Eutanásia. Gostosa. Com sua boa bunda dourada como fritura enfeitando as revistas nas bancas de esquina. Sem esquecer, é claro, de suas ideologias e pensamentos. Ela também terá o que falar. “Eu sempre fui super fã da eutanásia e é uma honra pra mim poder representá-la (...) mas na cama pra mim, o homem tem que ser homem, sabe? Tem que ter pegada”.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:12.0pt; line-height:115%">Vendam, façam minha ideia virar dinheiro e passatempo burguês. Não precisa dar minha parte, dez por cento, gorjeta. Nem botar meu nome nos créditos. Só quero justiça pro meu lado. E não é isso que todo mundo quer, justiça pro seu lado? Então, Brasil! Vamo liberar a eutanásia e dar um jeito no Wellington Paulista.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:12.0pt; line-height:115%">Muito já poderia ter sido evitado. Cortar o mau pela raiz não é seu forte, né Brasil? Desde seus tempos de Botafogo. Grosso. Desajeitado. Cagão. Chato. Metido. Falastrão. Como chegou lá? Nunca curti ele. Mas também não curtia o Botafogo. Mas agora não, pô. Tá lá no meu Cruzeiro já tem tempo. Desde 2009 não fazendo merda nenhuma, se arrastando na área. Quantos gols fez esse ano? Uns cinco? Ridículo. Enganando a torcida, o técnico, a diretoria. Tentando enganar também o juiz. Simulando pênalti. Se jogando nas canelas dos zagueiros, pulando no chão com técnicas de linguagem corporal dignas de uma modelo&atriz. Porra!<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:12.0pt; line-height:115%">Mas você nunca me enganou, Wellington Paulista. Talvez tenha enganado até a si mesmo, mas não a mim. Eu compreendo sua alma, sua missão neste planeta. Tanto sofrimento recíproco não poderá ter sido em vão. Lutarei pela sua salvação, a eutanásia. Não precisaremos mais de tanta dissimulação. Você lá, natimorto na grande área, e eu do outro lado da tevê sofrendo ao observar a que ponto chegamos. Espetáculo mórbido, ridículo. E caro. Já cansei de vaiar e não ver as cortinas serem fechadas. Não devolverão meu dinheiro, nem meu tempo perdido, nem o Wellington Paulista ao Botafogo. Só façam a justiça de mostrar que antes de ser uma obrigação, a morte é um direito.<o:p></o:p></span></p>Igor Damascenohttp://www.blogger.com/profile/11163447904774985016noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2149013487114727994.post-8524887914949867392011-11-22T09:28:00.002-02:002011-11-22T10:53:03.227-02:00Poema de Corpo Presentea notícia correu rápido<div>rápido como poesia ruim</div><div>correu rápido nas casas das velhas</div><div>e nas praças dos velhos</div><div><br /></div><div>mais uma morte no bairro?</div><div>é luxo demais!</div><div>quanto luxo</div><div>essa vaidade de sobreviver!</div><div>não se preocupe,</div><div>morte.</div><div>esses te esperam</div><div>-inadmissivelmente-</div><div>por ali </div><div>pelo menos você</div><div>há de chegar.</div><div><br /></div><div>a à toa do 113</div><div>entre um angu </div><div>e uma couve refogada</div><div>sai lá fora </div><div>onde não há pessoas enlatadas</div><div>pescadas</div><div>ensardinhadas</div><div>nos carros enfileirados</div><div>nas cidades grandes </div><div>da sua tevê.</div><div>sai lá fora,</div><div>se gaba</div><div>e</div><div>persiste:</div><div>meu mais novo me disse</div><div>mas nem precisava,</div><div>eu ainda lembro</div><div>deles, moleques,</div><div>brincando descalço</div><div>cutucando sapo</div><div>empinando papagaio</div><div>chutando bola </div><div>um dia então</div><div>debaixo duma trave de bambus</div><div>um caiu na sua cabeça</div><div>sangrou</div><div>sangrou</div><div>na certa o retardadou</div><div>lavou e quis continuar</div><div>com a bola</div><div>pra cá, pra lá.</div><div>coisa de muleque.</div><div>e a mãe deixou</div><div>se fosse filho meu...</div><div>não tinha ficado desmiolado</div><div>por uma trave de bambu</div><div>na sua cabeça</div><div>depois do escanteio.</div><div>coitado</div><div>culpa mais da mãe</div><div>que do bambu</div><div>coitado</div><div>desmiolado</div><div><br /></div><div>o seu Rubem</div><div>padeiro </div><div>que tinha padaria</div><div>se inculpava</div><div>deveria ter dado um emprego pra ele</div><div>ó ceus</div><div>deveria</div><div>começava como menino da bicicleta</div><div>fazendo cobrança</div><div>correndo atrás</div><div>gostava de correr mesmo quando menino</div><div>aí</div><div>virava caixa</div><div>depois de aprender de matemática</div><div>e de trabalho</div><div>e de mexer com dinheiro</div><div>e por que não?</div><div>quem sabe um dia um padeiro</div><div>que faria pão</div><div><br /></div><div>de remorso</div><div>também vivia Carla</div><div>por que não dei pra ele</div><div>?</div><div>Carla</div><div>de tanta beleza e mitideza</div><div>Deus a castigou</div><div>tanto marrou, marrou</div><div>que quando deu</div><div>emprenhou.</div><div>ficou gorda, feia</div><div>(chata já era)</div><div>e com filho pra criar.</div><div>nem casou.</div><div>o velhaco</div><div>que a descabaçou</div><div>sumiu e</div><div>nem sobrenome deixou.</div><div>bem feito.</div><div>por que não dei pra ele?</div><div>se penitenciava ela</div><div>por que não dei pra ele</div><div>nem pro marquinho</div><div>nem pro pedro</div><div>nem pro celso</div><div>paulinho</div><div>renato</div><div>luís</div><div>nem pra ninguém?</div><div><br /></div><div>ele havia de ser poeta mesmo</div><div>parem com isso</div><div>todos vocês</div><div>dizia o amigo</div><div>que por ali mesmo ficou</div><div>no bairro, na cidade</div><div>na mesma casa</div><div>na mesma amizade</div><div>na mesma incompatibilidade</div><div>mas na mesma amizade.</div><div>ele havia de ser poeta mesmo</div><div>era isso</div><div>ou enviadar</div><div>vocês queriam ele enviadado?</div><div><br /></div><div>e o corpo chegou</div><div>corpo</div><div>nasceu numa folha de caderno</div><div>linhas normais</div><div>papel branco, retangular, etc</div><div>as margens não foram respeitadas</div><div>foram rabiscadas</div><div>asteriscadas</div><div>foda-se as margens.</div><div>virou um livro</div><div>lindo, pomposo</div><div>editoriado</div><div>conceitual</div><div>ou, como diriam,</div><div>eviadado.</div><div><br /></div><div>eis o poema de corpo presente</div><div>onde há tudo </div><div>que resultou</div><div>ou restou.</div><div>poema de corpo presente</div><div>aceita-se vigílias</div><div>coroas de flores</div><div>condolências</div><div>saudades</div><div>choros contidos,</div><div>espalhafatosos,</div><div>falsos, por que não?</div><div>só não se despeçam</div><div>do que não tem fim.</div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div>Igor Damascenohttp://www.blogger.com/profile/11163447904774985016noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2149013487114727994.post-82805855899599867722011-10-08T12:48:00.002-03:002011-10-08T13:23:09.687-03:00Poema das Sete Putas<span class="Apple-style-span" >Quando cresci, um amigo gordo</span><div><span class="Apple-style-span" >desses que vivem de sobras</span></div><div><span class="Apple-style-span" >disse: Vai, Igor! conhecer a razão da vida.</span></div><div><span class="Apple-style-span" ><br /></span></div><div><span class="Apple-style-span" >De nossas casas saímos como homens</span></div><div><span class="Apple-style-span" >correndo atrás daquelas mulheres.</span></div><div><span class="Apple-style-span" >A noite talvez fosse finalmente,</span></div><div><span class="Apple-style-span" >aquela que saciaria tantos desejos.</span></div><div><span class="Apple-style-span" ><br /></span></div><div><span class="Apple-style-span" >E meu bonde queria passar entre pernas:</span></div><div><span class="Apple-style-span" >Pernas brancas, pretas, amarelas.</span></div><div><span class="Apple-style-span" >Abre logo essas pernas, meu Deus, gritava o meu tesão.</span></div><div><span class="Apple-style-span" >Porém diante dos meus olhos</span></div><div><span class="Apple-style-span" >não subia nada.</span></div><div><span class="Apple-style-span" ><br /></span></div><div><span class="Apple-style-span" >A mulher atrás das pernas</span></div><div><span class="Apple-style-span" >era séria, feia e barata.</span></div><div><span class="Apple-style-span" >Quase não conversava.</span></div><div><span class="Apple-style-span" >Em poucas vezes, raras vezes</span></div><div><span class="Apple-style-span" >perdoava o homem que brochasse.</span></div><div><span class="Apple-style-span" ><br /></span></div><div><span class="Apple-style-span" >Meu Pênis, por que me abandonaste</span></div><div><span class="Apple-style-span" >se sabias que disso eu pouco sabia</span></div><div><span class="Apple-style-span" >se sabias que eu era fraco.</span></div><div><span class="Apple-style-span" ><br /></span></div><div><span class="Apple-style-span" >Pênis pênis, vamos, pênis</span></div><div><span class="Apple-style-span" >se eu comesse todo mundo</span></div><div><span class="Apple-style-span" >até te perdoaria, mas agora não.</span></div><div><span class="Apple-style-span" >Pênis pênis, vamos, pênis.</span></div><div><span class="Apple-style-span" >mais vale você que meu coração.</span></div><div><span class="Apple-style-span" ><br /></span></div><div><span class="Apple-style-span" >Eu não devia dizer</span></div><div><span class="Apple-style-span" >mas essa história</span></div><div><span class="Apple-style-span" >com essa puta, feia como diabo</span></div><div><span class="Apple-style-span" >foi a primeira das sete que comi.</span></div><div><br /></div>Igor Damascenohttp://www.blogger.com/profile/11163447904774985016noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2149013487114727994.post-28773936936186528622011-07-22T17:27:00.006-03:002011-07-22T18:32:50.580-03:00Palavrada<p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="line-height: 115%; "><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px; line-height: normal; "><i>"Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira."</i></span></span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: right; "><span style="line-height: 115%; "><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px; line-height: normal; "><i>Manoel de Barros</i></span></span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: left;"><span style="line-height: 115%; "><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px; line-height: normal; "></span></span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: normal; "><span style="line-height: 115%; "><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px; line-height: normal; "><span class="Apple-style-span" ><span style="font-size: 12pt; color: black; ">1- Palavra, coisa besta que não basta. (Nem pros bastardos)</span><span style="font-size: 12pt; color: black; "><o:p></o:p></span></span></span></span></span></p><span style="line-height: 115%; "><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px; line-height: normal; "> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: normal; "><span class="Apple-style-span" ><span style="font-size: 12pt; color: black; ">Palavra pra nome nem falo. Não nomeio: não falho.</span><span style="font-size: 12pt; color: black; "><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: normal; "><span class="Apple-style-span" ><span style="font-size: 12pt; color: black; ">Deslimito.</span><span style="font-size: 12pt; color: black; "><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: normal; "><span class="Apple-style-span" ><span style="font-size: 12pt; color: black; ">Palavra pra mim gosta de poesia.</span><span style="font-size: 12pt; color: black; "><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: normal; "><span class="Apple-style-span" ><span style="font-size: 12pt; color: black; ">Todas as coisas poderiam falar por mim. Mas só dou liberdade pras que falam em poesia.</span><span style="font-size: 12pt; color: black; "><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: normal; "><span class="Apple-style-span" ><span style="font-size: 12pt; color: black; ">Eu dou poesia.</span><span style="font-size: 12pt; color: black; "><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: normal; "><span class="Apple-style-span" ><span style="font-size: 12pt; color: black; ">Poesia é a arte da liberdade. Vem direto do nada rumo a lugar nenhum.</span><span style="font-size: 12pt; color: black; "><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: normal; "><span class="Apple-style-span" ><span style="font-size: 12pt; color: black; ">Dá voltas e voltas por aí. Nem precisava, pois é onipresente. Mas passeia só de passeio. Só de poesia.</span><span style="font-size: 12pt; color: black; "><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: normal; "><span class="Apple-style-span" ><span style="font-size: 12pt; color: black; ">Se confunde com nuvens (expansão de pássaros).</span><span style="font-size: 12pt; color: black; "><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: normal; "><span class="Apple-style-span" ><span style="font-size: 12pt; color: black; ">Se confunde com o nu.</span><span style="font-size: 12pt; color: black; "><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: normal; "><span class="Apple-style-span" ><span style="font-size: 12pt; color: black; ">Em mim só confunde.</span><span style="font-size: 12pt; color: black; "><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: normal; "><span class="Apple-style-span" ><span style="font-size: 12pt; color: black; ">2- Não confunda essa confissão com confusão.</span><span style="font-size: 12pt; color: black; "><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: normal; "><span class="Apple-style-span" ><span style="font-size: 12pt; color: black; ">3- Liberdade é a voz da alma desterrada. Eu grito!</span><span style="font-size: 12pt; color: black; "><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: normal; "><span class="Apple-style-span" ><span style="font-size: 12pt; color: black; ">Alguém escuta?</span><span style="font-size: 12pt; color: black; "><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: normal; "><span class="Apple-style-span" ><span style="font-size: 12pt; color: black; ">Aí que tá a coisa:</span><span style="font-size: 12pt; color: black; "><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: normal; "><span style="font-size: 12pt; color: black; "><span class="Apple-style-span" >A palavra me tem por completo porque é cúmplice da minha incomplitude.</span></span><span style="font-size: 12pt; font-family: 'Times New Roman', serif; color: black; font-style: italic; "><o:p></o:p></span></p></span></span></span><p></p>Igor Damascenohttp://www.blogger.com/profile/11163447904774985016noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2149013487114727994.post-61843087885462824222011-07-21T10:14:00.003-03:002011-07-21T10:19:06.978-03:00Dice (Dá-se)<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >Dados jogados.</span></div><div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" ><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >Sorte</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" ><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >Proposta?</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" ><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >Morte</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" ><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >Pro povo,</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" ><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >Na bosta,</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" ><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >Dado, jogado.</span></div></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span"><br /></span></div>Igor Damascenohttp://www.blogger.com/profile/11163447904774985016noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2149013487114727994.post-45477936278363167472011-07-12T11:25:00.002-03:002011-07-12T11:32:20.833-03:00Igor<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; "><span class="Apple-style-span" style="line-height: 18px; "></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; "><span style="line-height: 115%; "><span class="Apple-style-span" >Prostrado, arqueado em sua velha cama repensava enésimas vezes sobre suas mesmas frustrações diárias. Essa era a sua lei, sua rotina: falhar desde o amanhecer e ressuscitar o fracasso todas as noites, como se algo em si, algum dia, tivesse poder de mudança. Perdia-se na relatividade dessa tal mudança que se dizia ser feita no mundo lá fora, mas que dentro de si, permanecia inerte. Amigos, mulheres, vícios, dívidas, putas, sentimentos. Mudavam-se apenas os nomes. Uma eterna dança incontrolável de déjà-vus regida pelo círculo vicioso do simples despertar de um dia seguinte. Bastava um alvorecer de suas pálpebras cansadas e lá estava ele a contemplar mais uma vez seus dilemas inpalpáveis. Sentia vontade de matéria, de poder arremessar tudo com suas mãos. De apertar, rasgar, tatear, de se fazer sentido. Mas não podia, tudo estava em sua mente, em suas divagações, suas memórias. Ah, suas memórias! Quantas vezes tentou se livrar deste labirinto funesto revirador de dores... <o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; "><span style="line-height: 115%; "><span class="Apple-style-span" >Buscava refúgios, de todos os tipos. Amparos, ignorâncias, libidos, ilusões. Inutilidades. Frustrava-se sempre, pois nunca foi capaz de alcançar a liberdade de sair de si.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; "><span style="line-height: 115%; "><span class="Apple-style-span" >Embora negasse a si mesmo, frequentemente seus devaneios debilitados o levavam a ela, a acomodadora de inadequações, a morte. Não pensava em dar-se ao fim, nunca. Faltava-lhe coragem, faltava-lhe mudança. Tentava adquirir reciprocidade com pactos que fazia com uma força espiritual, que apesar de inominada aos seus conhecimentos, era crida. Não abominaria a benção, seja qual for sua origem, de morrer dormindo. Seria seu momento. Esperava por uma morte que contrariasse sua vida. Morte tranquila, desejada. Prostrado, arqueado em sua velha cama, escrevia.</span><span class="Apple-style-span" ><o:p></o:p></span></span></p><p></p>Igor Damascenohttp://www.blogger.com/profile/11163447904774985016noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2149013487114727994.post-14245160575189352012011-07-10T19:02:00.002-03:002011-07-11T12:29:22.160-03:00Fraquejo<p class="MsoNormal" style="text-align:justify">À moda antiga?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify">Na verdade eu mal consigo imaginar como esteja o cabelo dela hoje em dia. Se ainda usa o mesmo perfume, se mora no mesmo lugar ou se ainda sente atração por fracassados. As bandas que amaria até o resto da vida, tenho certeza que mudaram. Ela sempre seguiu os tempos coletivos. Várias modas já se passaram desde a última vez que a abracei. E eu continuo aqui, não me adaptando a nenhuma delas e não encaixando bem em nenhum abraço.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify">Sempre tive a sensação de prepotência de fracassado. Eu só precisaria de uma chance? Se ela fosse por mim, não existiria nada nem ninguém que a faria mudar de ideia. Falta de modéstia? Vontade de me explicar, de me aceitar, de me assegurar dentro de mim a fim de descobrir que nem todo fracasso foi em vão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify">O problema é minha confiança, nunca em doses certas. Ou me falta, a ponto de cair na realidade e me perceber como sou. Ou me sobra, achando que o fracasso é só questão de ponto de vista e que assim devo ser, até que a empatia se sobreponha a inadequação.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify">Não me pertenço?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify">Preciso da eterna busca de virtudes ocultas. O exato, escancarado, o gratuito, nunca me completou. A procura desse feixe de luz externo vem da escuridão interna? É por ter demais a mostrar? Chega a incomodar tudo isso que, até segunda ordem (ou segundo amor), está escondido em mim. Guardado ali, quietinho, embaixo de tantas decepções e precauções, defendendo. Carrego no olhar a angústia de não saber o quanto mudei, o quanto preciso mudar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify">Vem, esbarre em mim qualquer domingo na rua e lance de volta seu sorriso sem graça. Me confunda, me contradiga outra vez.</p>Igor Damascenohttp://www.blogger.com/profile/11163447904774985016noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2149013487114727994.post-53551614290305443982011-07-10T18:58:00.002-03:002011-07-12T19:07:28.526-03:00Desculpe pela sinceridade<p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; " >Pare. Pense um pouco sobre essa angústia/egoísmo de buscar o amor de alguém. Já tá me enchendo o saco ficar aqui lembrando dela, escrevendo, tentando identificá-la em alguma música ou filme imbecil. Tô achando que só esse incomodozinho chato que sinto já me dá autoridade de entendedor de poesia, de filosofia juvenil de boteco de velho, de amor. Quanta falta do que fazer, meu Deus!<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; " >Dá vontade de quietar um pouco. Sanidade sim, sanidade não, me pego imaginando o após: a tranquilidade extasiada de me ter nela e nada mais. Nada mais de melodramas! Dá vontade de ser lembrado só pra ser merecedor do dom de esquecer. Isso é pedir demais? Isso é de pedir? É isso?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; " >Se segura aí! Vai com calma! Tá todo mundo falando isso comigo e tem de dar tempo ao tempo e não sei o quê. Acho que descobriram minha destreza de disfarçar ansiedade como paciência. Vão me chamar de louco. Aceito, se puder ser apenas ser louco. Ou preciso da loucura de me justificar apaixonado?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; " >Não é hipocrisia não, juro. No máximo autodefesa que nasceu por intuição covarde. Coisa que vem de dentro mesmo, nada de psicanálise ou cigarrinho da liberdade. Coisa que não resolve. Agonia. Acredite se me quer.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; "><span class="Apple-style-span" >Sei que ninguém compra vira-lata. Tô me doando.</span><span class="Apple-style-span" ><o:p></o:p></span></span></p>Igor Damascenohttp://www.blogger.com/profile/11163447904774985016noreply@blogger.com1