sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Adeus, boa amiga.

Acabo de perder mais uma mesa de rodinhas. É incrível pensar que eu, no alto dos meus 19 anos, ainda tenho esse estranho talento para estragar tudo que tenha rodinhas. Logo hoje, que tinha decidido entrar na auto-escola...
Porém modéstia à parte, ainda devo reconhecer minha perseverança. Se não fosse por minha determinação, nunca teria quebrado tantos objetos com rodinhas. Teria desistido na primeira bicicleta que ganhei, aos cinco anos de idade. Mas foi destruindo minha primeira bicicleta que ganhei a segunda, dessa vez sem rodinhas. Já mais maduro e responsável, pude tratar melhor da minha segunda bicicleta. E é com orgulho que hoje, depois de 10 anos, ainda possuo ela. Não posso negar que há 9 anos ela está parada, mas com certeza ela está em lugar melhor do que minha primeira.

Agora com as escrivaninhas são diferentes. Ainda sinto orgulho da minha primeira mesa de computador. Sinto orgulho que ela ainda permaneça branca, contrastando com meu computador amarelo, que também já foi branco um dia, criando uma linda harmonia unicolor, há muito tempo atrás.
Apesar de tanto orgulho, sabe-se lá porque resolvi comprar outra mesa. E dessa vez foi com meu próprio dinheiro. Sabe-se lá como o ganhei.
Aos 18 anos me achava o dono do mundo. Adulto, maduro e responsável o suficiente para comprar uma escrivaninha nova com meu próprio dinheiro. E porque não uma com rodinhas? Afinal eu já tinha idade suficiente para assumir a responsabilidade de ter uma.

Mas hoje, após um trágico acidente, posso constatar minha imaturidade. Sinto a sua perda como uma perda de um filho. Tantos planos, tantos momentos juntos, tantas histórias... E é triste saber que levarei para sempre a dor do remorso na memória. Se ao menos tivesse feito um seguro, ou quem sabe passado mais tempo a preparando para as armadilhas desse mundo... Mas sempre fui egoísta! Sempre a utilizei apenas como apoio para meus projetos pessoais, sempre a tratei apenas como um objeto, como algo sem vida...

Agora seria eu aquele garotinho de cinco anos, que ainda precisa de apoio para continuar andando sozinho? Não. Naquela época eu tinha força para me levantar após a queda.

Se antes haviam dúvidas sobre a vida de minha escrivaninha, hoje há apenas certeza que uma parte da minha foi embora com ela.


(In Memoriam - Escrivaninha do Igor *2009 2010)

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