terça-feira, 29 de junho de 2010

Eu queria ser pedreiro

Seria mais fácil falar que sempre quis ser escritor. Talvez isso reforçasse ainda mais meus sonhos e meus hobbies preferidos e assim eu mesmo me auto-enganaria com aquela máxima: "Nossa, eu realmente nasci pra isso!". Mas a verdade não é bem assim. Aos cinco anos de idade eu sonhava em ser pedreiro e isso não será apagado por nenhuma auto-biografia minuciosamente forjada.
Dentro dos vários segredos de infância que envergonhariam qualquer um, a minha ex-vontade de ser pedreiro se sobrepõe. Ser jogador de futebol, herói de guerra ou astronauta tem lá o seu valor. Mas ao crescermos descobrimos que não somos bons demais para essas coisas. Então procuramos apenas jogar futebol aos fins de semana, ser herói de uma guerra mundial apenas pelo video-game e acabamos nos contentando com um simples observar de um céu estrelado. E daí? Ser pedreiro ainda parecia ser um sonho alcançável e eu poderia ser feliz com isso.


Construir casas, prédios, lojas e o que mais a imaginação pudesse inventar era tudo o que eu queria da vida. A mim, não parecia existir prazer maior do que construir a própria casa. Aliás, eu achava o maior absurdo pagar um terceiro para construir a sua própria casa. O que mais esses adultos preguiçosos fariam? Pagar por coisas que se acha de graça aqui no bairro, como acerola e cocô de cavalo? Adultos... seres estranhos. Apenas os adultos pedreiros pareciam ser espertos pra mim.

Os anos se passaram. Hoje em dia, minha rua é um pouco diferente do que era quando eu tinha cinco anos. Dois ou três prédios foram construídos. O maior de todos, foi construído em frente a minha casa, em um antigo lote vago onde a turma do bairro se reunia para jogar futebol. Hoje não tenho mais a mesma visão da janela que eu conseguia ver o céu estrelado a noite. Me resta fazer uma guerra?

Curiosamente, após esses anos que se passaram, o setor da construção civil se apresenta como um dos mais promissores. Salários e oportunidades nunca sonhadas antes (nem por garotos inocentes de cinco anos de idade) já são realidade e atraem cada vez mais pessoas para um ramo tão repleto de preconceitos. Já o ramo da literatura...

O certo é que ainda tenho a alma de um garoto de cinco anos que sonha em ser pedreiro. E assim sigo construindo meu abrigo, não com cimento e tijolos -sou muito fraco para carregá-los- mas sim com papel e tinta, instrumentos muito arcaicos ou muito modernos para a construção (de uma vida) civil.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Junto

Junto meus próprios cacos ao acordar mais um dia sem você.
Junto seu sorriso ao seu olhar para te ter inteira.
Junto a saudade e a esperança para continuar a viver.
Junto nossas vidas a vidas passadas para tentar entender.
Junto nossos amores aos papéis para nos refazer.
Junto cada segundo a minha pena perpétua.
Junto minhas penitências para te prometer.
Junto meus arrependimentos para me flagelar.
Junto a hemorragia de minha alma para te transfundir.
Junto seus gritos aos meus suspiros para te desejar.
Junto seu calor aos meus temores para me proteger.
Junto seus sonhos a minha insônia para te fazer dormir.

Junho:
Junto seus abraços aos meus braços para tudo esquecer.
Separo-me de mim e tudo está bem. Estou junto a ti.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Café e Você

Quando me perco em mais um
De tantos desses dias comuns
A verdade parece fazer sua função.
Permanece, prevalece
Não se esquece.
Sobressalta meus olhos
Insubordina minha garganta
E bendiz asserções.

Malfado meu destino
Mas como em um subtâneo
Gole de café,
Amargo e aceito
Sua predileção.


Afeições e esperas
Sobrepõem-se.
Angústias recíprocas,
Tão tardiamente,
Aquecem seu bem-querer.

Convicções, meu bem,
Não se oferecem ao próprio ego.
Apenas depararás
Com minhas peripécias ao anoitecer,
E minhas insônias para prometer.

domingo, 6 de junho de 2010

Larissa Prosa e Poesia

Larissa é uma dessas garotas que te fazem repensar sobre tudo que você já leu e já escreveu. Larissa sorri assim como ela se escreve, com aquela mesma sutileza intensa presente nas mais belas musas e nos maiores poetas, mas prefere não usar isso como sua arma letal. Sabe que seria muita covardia contra os réles mortais.
Larissa está escrita nas entrelinhas, tentando escrever um diário de memórias que parece não se encaixar em seu olhar. Mas não se esconde, apenas se abriga em um lar onde apenas os leitores como ela sabem o endereço.
Larissa é um cotidiano a cada capítulo, mas se renova com intensidade roendo as unhas de cada página. Além do que se parece, Larissa não possui traças ou traços tortos de poeira, ela apenas toma sol duas vezes ao dia, e precisa apenas disso para escrever seu novo livro.
Larissa às vezes esquece em qual página parou, ela não usa marca-páginas. Mas não importa o que aconteça, se lembra muito bem sobre o que leu ontem a tarde, sentada em seu sofá e esperando algum toque de campainha especial. Então mais uma vez ela relê o capítulo ainda fresco em sua memória, mas não se importa, porque nenhum de seus capítulos são em vão.
Larissa sabe o quanto vale. Mesmo em liquidações ou em altas do dólar, ela tem seu próprio valor. Muitos acham o preço caro. Muitos se espantam pelo pouco que se pede. Há outros que apenas sabem que não devem julgá-la pelo preço antes de ler. E é claro, há também aqueles apesar de saberem juntar as sílabas e formar palavras, nunca entenderão a sua complexidade extra-textual, seu elemento fundamental e que não é ensinado em nenhuma escola.

Larissa vive por completo.
Larissa vive em um romance narrando suas aventuras ricas e seus personagens sofridos com cada riqueza de detalhe que lhe é cabível. Vive em uma novela, pois há em sua vida um desenvolvimento intenso que beira o infinito. Larissa é uma crônica, baseada em fatos reais e com toques de humor e crítica, mas que não faz tanto sentido no dia seguinte. É um conto, que vive como personagem principal numa brevidade que não corresponde aos valores do tempo. Larissa conta fábulas, conta como seus simples objetos supostamente inanimados podem atribuir lições para sua vida. Larissa conta seus dramas, com diálogos e encenações vividas a flor da pele para seus diversos públicos.

Mas tal multiplicidade não seria possível sem um porquê. Larissa é poesia em sua essência e isso é capaz de justificar tudo o que conta, escreve, inventa ou esconde. É a harmonia entre a poesia e a realidade. É o esconderijo dos poetas que nela mesmo habitam. É o além do que se pode ler.