quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Haver Mister do Solstício

Ao alinhamento cósmico ínfero-temporal
Vossa Majestade, o Sol, volver-se-á esplendor
Se nós, mortais, ao dispor do haver mister resplandecêssemos.
Os mitos, mistérios e crenças, ao afigurar da esperança
Sucumbiremos

Assumimos que ao retrógrado amor, a salvação lúcida, nos encontraremos
A redenção, áurea como a própria aurora, nos esclarecerá
Como crianças ao limiar da inocência,
Admirando o mais magnânimo dos sentimentos
Como a jovem Terra perante a sumptuosa Galáxia,
Perceberemos

Que o nosso futuro, adiantado pelo passado
Repensado será.
Através da presente pernoite, o tênue sono perdido
Compartilhará

Ao padecer da desistência
Ao declive das almas,
À propensão do infortúnio
Inevitável será.
Adeus vida
Dois mil e doze bastar-se-á

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Adeus, boa amiga.

Acabo de perder mais uma mesa de rodinhas. É incrível pensar que eu, no alto dos meus 19 anos, ainda tenho esse estranho talento para estragar tudo que tenha rodinhas. Logo hoje, que tinha decidido entrar na auto-escola...
Porém modéstia à parte, ainda devo reconhecer minha perseverança. Se não fosse por minha determinação, nunca teria quebrado tantos objetos com rodinhas. Teria desistido na primeira bicicleta que ganhei, aos cinco anos de idade. Mas foi destruindo minha primeira bicicleta que ganhei a segunda, dessa vez sem rodinhas. Já mais maduro e responsável, pude tratar melhor da minha segunda bicicleta. E é com orgulho que hoje, depois de 10 anos, ainda possuo ela. Não posso negar que há 9 anos ela está parada, mas com certeza ela está em lugar melhor do que minha primeira.

Agora com as escrivaninhas são diferentes. Ainda sinto orgulho da minha primeira mesa de computador. Sinto orgulho que ela ainda permaneça branca, contrastando com meu computador amarelo, que também já foi branco um dia, criando uma linda harmonia unicolor, há muito tempo atrás.
Apesar de tanto orgulho, sabe-se lá porque resolvi comprar outra mesa. E dessa vez foi com meu próprio dinheiro. Sabe-se lá como o ganhei.
Aos 18 anos me achava o dono do mundo. Adulto, maduro e responsável o suficiente para comprar uma escrivaninha nova com meu próprio dinheiro. E porque não uma com rodinhas? Afinal eu já tinha idade suficiente para assumir a responsabilidade de ter uma.

Mas hoje, após um trágico acidente, posso constatar minha imaturidade. Sinto a sua perda como uma perda de um filho. Tantos planos, tantos momentos juntos, tantas histórias... E é triste saber que levarei para sempre a dor do remorso na memória. Se ao menos tivesse feito um seguro, ou quem sabe passado mais tempo a preparando para as armadilhas desse mundo... Mas sempre fui egoísta! Sempre a utilizei apenas como apoio para meus projetos pessoais, sempre a tratei apenas como um objeto, como algo sem vida...

Agora seria eu aquele garotinho de cinco anos, que ainda precisa de apoio para continuar andando sozinho? Não. Naquela época eu tinha força para me levantar após a queda.

Se antes haviam dúvidas sobre a vida de minha escrivaninha, hoje há apenas certeza que uma parte da minha foi embora com ela.


(In Memoriam - Escrivaninha do Igor *2009 2010)

domingo, 10 de janeiro de 2010

Quando plantei uma muda

Férias de verão me fazem lembrar de quando plantei uma muda.


Definitivamente não era a melhor coisa para se fazer nas férias, mas os conselhos da sociedade sobre a plantação de mudas pareciam ser motivadores.


Campanhas natalinas, ONG's, assistentes sociais, comerciais de TV, indicações de amigos e blogs legais da internet que relatavam experiências bem sucedidas...


Resolvi que pelo menos uma vez na vida eu deveria tentar. Deveria inovar, superar os preconceitos e a minha hipocrisia para com a sociedade. Resolvi plantar.





No começo tudo parecia dar certo. Eu estava feliz com meu trabalho e pensava que seria realmente recompensado se continuasse trabalhando sério. Alimentava-a do jeito que mandava os mais caros manuais de agronomia que consegui comprar. Aguava-a de um modo que nem mesmo as mais crueis águas de verão pensaram em fazer com o pobre litoral brasileiro. Sentia que ali poderia se estabelecer uma verdadeira relação de carinho, afeto e reciprocidade, algo que se assimilava ao amor cedido por famílias de classe média às crianças negras adotadas.




E foi assim, mesmo com o passar das minhas férias, que continuei a fazer meu serviço. Sentia que era um fardo pesado e que apenas uns poucos escolhidos por Deus poderiam carregar. E foi assim, mesmo com meu passado insensível atormentando o porvir, que lutei contra meus defeitos e continuei cultivando minha linda muda. Mal podia esperar pela tal primavera...



Mas o outono acabou chegando primeiro. E do jeito que os cientistas avisaram: apenas no hemisfério sul.


O outono testava meus conceitos, preconceitos e paciência. De repente eu parecia estar em um interminável filme de terror. O homicídio doloso parecia ser inevitável. Quantas vezes pensei em injeção letal, envenenamento e até em métodos menos ortodoxos...


Mas eu precisava ser forte para aceitar continuar. Meus planos mudaram completamente e... PORRA, ALÉM DE MUDA, ERA SURDA, CEGA E VERDE!?!?


Com certeza a sociedade não me advertiu sobre isso. Sempre achei que ela seria apenas muda, e que esse seria meu único desafio. Mas a comunicação se tornava cada vez mais difícil e aquela cor diferente da minha incomodava todos olhares. Seria culpa do maldito outono? Da maldita sociedade? Não. Era hora de me libertar da minha covardia e aceitar o meu destino.



Desde então sou vegetariano e liberto a humanidade desse mal maior com meus próprios dentes.


domingo, 3 de janeiro de 2010

Um Próspero Ano Novo

Cinco, quatro, três, dois, um. Feliz 2010 e todas aquelas baboseiras familiares. Resisto fortemente e me comporto como um bom cristão, até perceber aquele fardo de cerveja na geladeira e começar a me preocupar. Talvez meu réveillon não estivesse predestinado ao fracasso, talvez eu deveria encarar aquilo como um sinal divino de que 2010 possa realmente ser um ano melhor, e começar do jeito que passei uns 2010 dias em 2009: bebendo.
Mas e aí? Seria só abrir a geladeira e curtir o melhor réveillon familiar de todos os tempos? E descaradamente responder os olhares tortos batendo no peito e me auto-afirmando como garoto rebelde de 19 anos? Ah, deixa pra lá. O sono já me ganhava e então comecei a perceber que não tinha mais a mesma disposição jovial de 18 anos. Que saudades eu tenho de 2009...
Será que os votos de juízo, saúde e felicidade já estavam fazendo efeito? Recusara à cerveja, era vencido pelo sono e mesmo assim tudo parecia estar bem. 2010 poderia mesmo ser diferente.

Horas depois, já me sentindo como um idoso, parecia ter sido recompensado por tanto tempo ao lado do travesseiro. O novo ano pareceria mais maduro, mais sensato e mais sem apetite. Mesmo após ingerir tanta alimentação própria para humanos (ato não muito praticado em 2009), a sensação de vazio insistia em ficar. E a própria cerveja parecia ser apenas uma velha amiga em um passado distante.
Mas, porra! Nem vontade de cagar me dava! Como um dia pode envelhecer tanto uma pessoa? Daqui a pouco eu teria vontade de comer aquela papinha ou mingau estranho que trocava olhares comigo. Mas porque não tentar? Na verdade ela até tinha um olhar bem simpático...
Mousse de Maracujá...
Mousse de Maracujá
Mousse de Maracujá
Era um magnífico e apetitoso mousse de maracujá.
Como as pessoas conseguem beber cerveja ao invés de comê-lo? A humanidade parece não ter aproveitado as últimas horas para evoluir. E enquanto isto, eu aproveitava a vida como Horácio e Ana Maria Braga já nos sugeria.
Mas o que verdadeiramente aconteceu durante a tão teorizada vida de Horácio? O que nos resta além de sua poesia e seus séculos de inspiração? E o que dizer sobre Ana Maria Braga? Quantas pessoas verdadeiramente a conhecem além de seu programa diário em plena 8 horas da madrugada? E o que ela faz durante os intervalos comerciais? Eu, com certeza descobri tudo isso da pior maneira...

Diarreia, caros amigos, diarreia. Um tema pouco abordado por poesias e programas de TV, confesso. Mas não mais deixemos que isto crie uma barreira hipócrita que separa a verdade da felicidade.
Durante seus intervalos comerciais, Ana Maria Braga caga. Sim, ela caga. E isso dá até poesia. O que Horácio diria?

Ana Maria
Braga
Caga.

Caga,
Se contorce
Se escorre, se socorre

Se apressa
Se enerva, se esquiva
Chuá!
Ana Maria à cagar.



Mas e daí? O Horácio mais conhecido em 2010 continuará sendo o da Turma da Mônica. Ana Maria Braga, com tanto botox, pode mesmo ter perdido a habilidade de cagar. E eu, com tanto tempo sem escrever, posso mesmo ter perdido a vontade de me limpar.

Dois Mil e Dez. Carpe Diem. Colha seu dia, mas saiba que muitas diarreias virão. E que muitas coisas além da TV e da poesia devem ser feitas para quem deseja se sair limpo.