sexta-feira, 22 de julho de 2011

Palavrada

"Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira."

Manoel de Barros

1- Palavra, coisa besta que não basta. (Nem pros bastardos)

Palavra pra nome nem falo. Não nomeio: não falho.

Deslimito.

Palavra pra mim gosta de poesia.

Todas as coisas poderiam falar por mim. Mas só dou liberdade pras que falam em poesia.

Eu dou poesia.

Poesia é a arte da liberdade. Vem direto do nada rumo a lugar nenhum.

Dá voltas e voltas por aí. Nem precisava, pois é onipresente. Mas passeia só de passeio. Só de poesia.

Se confunde com nuvens (expansão de pássaros).

Se confunde com o nu.

Em mim só confunde.

2- Não confunda essa confissão com confusão.

3- Liberdade é a voz da alma desterrada. Eu grito!

Alguém escuta?

Aí que tá a coisa:

A palavra me tem por completo porque é cúmplice da minha incomplitude.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Dice (Dá-se)

Dados jogados.

Sorte

Proposta?

Morte

Pro povo,

Na bosta,

Dado, jogado.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Igor

Prostrado, arqueado em sua velha cama repensava enésimas vezes sobre suas mesmas frustrações diárias. Essa era a sua lei, sua rotina: falhar desde o amanhecer e ressuscitar o fracasso todas as noites, como se algo em si, algum dia, tivesse poder de mudança. Perdia-se na relatividade dessa tal mudança que se dizia ser feita no mundo lá fora, mas que dentro de si, permanecia inerte. Amigos, mulheres, vícios, dívidas, putas, sentimentos. Mudavam-se apenas os nomes. Uma eterna dança incontrolável de déjà-vus regida pelo círculo vicioso do simples despertar de um dia seguinte. Bastava um alvorecer de suas pálpebras cansadas e lá estava ele a contemplar mais uma vez seus dilemas inpalpáveis. Sentia vontade de matéria, de poder arremessar tudo com suas mãos. De apertar, rasgar, tatear, de se fazer sentido. Mas não podia, tudo estava em sua mente, em suas divagações, suas memórias. Ah, suas memórias! Quantas vezes tentou se livrar deste labirinto funesto revirador de dores...

Buscava refúgios, de todos os tipos. Amparos, ignorâncias, libidos, ilusões. Inutilidades. Frustrava-se sempre, pois nunca foi capaz de alcançar a liberdade de sair de si.

Embora negasse a si mesmo, frequentemente seus devaneios debilitados o levavam a ela, a acomodadora de inadequações, a morte. Não pensava em dar-se ao fim, nunca. Faltava-lhe coragem, faltava-lhe mudança. Tentava adquirir reciprocidade com pactos que fazia com uma força espiritual, que apesar de inominada aos seus conhecimentos, era crida. Não abominaria a benção, seja qual for sua origem, de morrer dormindo. Seria seu momento. Esperava por uma morte que contrariasse sua vida. Morte tranquila, desejada. Prostrado, arqueado em sua velha cama, escrevia.

domingo, 10 de julho de 2011

Fraquejo

À moda antiga?

Na verdade eu mal consigo imaginar como esteja o cabelo dela hoje em dia. Se ainda usa o mesmo perfume, se mora no mesmo lugar ou se ainda sente atração por fracassados. As bandas que amaria até o resto da vida, tenho certeza que mudaram. Ela sempre seguiu os tempos coletivos. Várias modas já se passaram desde a última vez que a abracei. E eu continuo aqui, não me adaptando a nenhuma delas e não encaixando bem em nenhum abraço.

Sempre tive a sensação de prepotência de fracassado. Eu só precisaria de uma chance? Se ela fosse por mim, não existiria nada nem ninguém que a faria mudar de ideia. Falta de modéstia? Vontade de me explicar, de me aceitar, de me assegurar dentro de mim a fim de descobrir que nem todo fracasso foi em vão.

O problema é minha confiança, nunca em doses certas. Ou me falta, a ponto de cair na realidade e me perceber como sou. Ou me sobra, achando que o fracasso é só questão de ponto de vista e que assim devo ser, até que a empatia se sobreponha a inadequação.

Não me pertenço?

Preciso da eterna busca de virtudes ocultas. O exato, escancarado, o gratuito, nunca me completou. A procura desse feixe de luz externo vem da escuridão interna? É por ter demais a mostrar? Chega a incomodar tudo isso que, até segunda ordem (ou segundo amor), está escondido em mim. Guardado ali, quietinho, embaixo de tantas decepções e precauções, defendendo. Carrego no olhar a angústia de não saber o quanto mudei, o quanto preciso mudar.

Vem, esbarre em mim qualquer domingo na rua e lance de volta seu sorriso sem graça. Me confunda, me contradiga outra vez.

Desculpe pela sinceridade

Pare. Pense um pouco sobre essa angústia/egoísmo de buscar o amor de alguém. Já tá me enchendo o saco ficar aqui lembrando dela, escrevendo, tentando identificá-la em alguma música ou filme imbecil. Tô achando que só esse incomodozinho chato que sinto já me dá autoridade de entendedor de poesia, de filosofia juvenil de boteco de velho, de amor. Quanta falta do que fazer, meu Deus!

Dá vontade de quietar um pouco. Sanidade sim, sanidade não, me pego imaginando o após: a tranquilidade extasiada de me ter nela e nada mais. Nada mais de melodramas! Dá vontade de ser lembrado só pra ser merecedor do dom de esquecer. Isso é pedir demais? Isso é de pedir? É isso?

Se segura aí! Vai com calma! Tá todo mundo falando isso comigo e tem de dar tempo ao tempo e não sei o quê. Acho que descobriram minha destreza de disfarçar ansiedade como paciência. Vão me chamar de louco. Aceito, se puder ser apenas ser louco. Ou preciso da loucura de me justificar apaixonado?

Não é hipocrisia não, juro. No máximo autodefesa que nasceu por intuição covarde. Coisa que vem de dentro mesmo, nada de psicanálise ou cigarrinho da liberdade. Coisa que não resolve. Agonia. Acredite se me quer.

Sei que ninguém compra vira-lata. Tô me doando.