domingo, 26 de dezembro de 2010

So it goes

Não se preocupe com os pernilongos à noite. Não, não se preocupe enquanto me tiver na cama ao seu lado, observando seu corpo tão mulher, dormindo seu sono de criança. Faço questão de garantir seu bom sono enquanto tento adivinhar seus sonhos, após ler Freud ou seu horóscopo no jornal. Não se preocupe por eu nunca lembrar dos meus próprios sonhos depois de acordar. Não há mal nenhum em deixar para inventá-los enquanto estou acordado.

Não se preocupe com o doce do café. Meu paladar matinal se saciará com um daqueles beijos que te roubo enquanto você sorri. E assim, querendo acertar no café, meio sem querer, chamará minha atenção para o sol estampado em sua camisa. Esquecerei do dia chuvoso lá fora e até mesmo do dia do meu aniversário que se aproxima.

Não se preocupe com minha tristeza nas noites de quarta, após ver meu time perder mais uma vez, com aquele gol feito perdido pelo atacante. Vou xingá-lo muito, você sabe. Você se assustará com a quantidade de palavrões que conheço. Mas também sabe que vou perdoá-lo ao ver sua entrevista. Ele inventará desculpas, pedirá desculpas. Eu irei entendê-lo, por empatia, e lançarei aquele olhar-convite para o clube dos homens que erram.

Não se preocupe com meu inglês. Não se assuste com as vinte palavras que sei em francês. Não se preocupe por eu conseguir enxergar além do português naquele livro de poesias que você me deu, e que nem imaginava que seria tão bom assim. Não se preocupe com o Godard, com o Baudelaire ou com o Dalí. Me satisfaço com aquelas três músicas do Chico que aprendeu a gostar.

Não se preocupe com o copo mal lavado em cima da pia. Acho que copos se lavam apenas passando uma água, rapidamente. Você gosta de bucha, detergente, sabão, Bombril. Não se preocupe se chegarem visitas. Sabemos do jogo de copos que sua mãe te deu e que está guardado no armário, esperando para ser utilizado em caso de emergência.

E não se preocupe sobre todo aquele amor que se falava nos últimos três mil anos de civilização ocidental. Falamos nele num domingo distante, por alguns oito minutos. Você me chamou de otimista. Já eu, decidi não me preocupar em te classificar. Não se preocupe em me amar.

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