terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Costas

Preciso de um desses seus abraços. De um, desses, que no fim das noites você tenta buscar em qualquer homem que te diga mentiras agradáveis. E assim como eu, sabe que fracassa. E assim como eu, leva mais um dia de desilusão pra cama, apesar de estar sempre com a libido em dia. Mas não se importa, ainda haverá tempo. Mas quem de nós pode falar de tempo?

Você anda por essa cidade de espelhos, de reflexos e de elogios poucos sinceros e se garante: ainda haverão mais uns vinte e cinco ou trinta anos dessa sua beleza instantânea, covarde aos olhos dos amantes e dos desiludidos de primeira viagem. Distribui sorrisos fáceis por aí, sem se preocupar com sua perda de espontaneidade. Talvez por lembrar de fazer-se lembrança para quem te faria sorrir na varanda de sua casa, reparando a pequenez das juventudes ou os desgostos das maturidades.

Enquanto eu estou sempre aqui, carregando como certeza apenas a inquietante dúvida entre a eternidade do simples e a efemeridade dos desejos. Me contentando em ser ouvidos, me condenando em me contemplar. Seguindo, ainda sem saber por onde, e tentando tirar as sinas pesadas demais sobre essas suas costas tão apertadas. Apertadas, acariciadas, desejadas, abraçadas. Ou quem sabe, destinadas.

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