terça-feira, 12 de julho de 2011

Igor

Prostrado, arqueado em sua velha cama repensava enésimas vezes sobre suas mesmas frustrações diárias. Essa era a sua lei, sua rotina: falhar desde o amanhecer e ressuscitar o fracasso todas as noites, como se algo em si, algum dia, tivesse poder de mudança. Perdia-se na relatividade dessa tal mudança que se dizia ser feita no mundo lá fora, mas que dentro de si, permanecia inerte. Amigos, mulheres, vícios, dívidas, putas, sentimentos. Mudavam-se apenas os nomes. Uma eterna dança incontrolável de déjà-vus regida pelo círculo vicioso do simples despertar de um dia seguinte. Bastava um alvorecer de suas pálpebras cansadas e lá estava ele a contemplar mais uma vez seus dilemas inpalpáveis. Sentia vontade de matéria, de poder arremessar tudo com suas mãos. De apertar, rasgar, tatear, de se fazer sentido. Mas não podia, tudo estava em sua mente, em suas divagações, suas memórias. Ah, suas memórias! Quantas vezes tentou se livrar deste labirinto funesto revirador de dores...

Buscava refúgios, de todos os tipos. Amparos, ignorâncias, libidos, ilusões. Inutilidades. Frustrava-se sempre, pois nunca foi capaz de alcançar a liberdade de sair de si.

Embora negasse a si mesmo, frequentemente seus devaneios debilitados o levavam a ela, a acomodadora de inadequações, a morte. Não pensava em dar-se ao fim, nunca. Faltava-lhe coragem, faltava-lhe mudança. Tentava adquirir reciprocidade com pactos que fazia com uma força espiritual, que apesar de inominada aos seus conhecimentos, era crida. Não abominaria a benção, seja qual for sua origem, de morrer dormindo. Seria seu momento. Esperava por uma morte que contrariasse sua vida. Morte tranquila, desejada. Prostrado, arqueado em sua velha cama, escrevia.

3 comentários:

  1. Igor - origem: Escandinavo Significado: príncipe da paz.

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  2. A vida tende a ganhar sentido ao olharmos para a morte. A autêntica coragem é a de viver e saber que em última instância é a vida que avalia todas as coisas.

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